quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Do Céu Rainha

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Do Céu Rainha
Afirma São Luís Grignion de Montfort que, “no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria” 26
O glorioso título de Rainha
Essa augusta prerrogativa de Nossa Senhora nos é apresentada com maior profundidade pelo santo Fundador dos Redentoristas, ao iniciar ele seus belos e piedosos comentários sobre a Salve Rainha:
“Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja A honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de Rainha. Se o Filho é Rei, diz Pseudo-Atanásio, justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se Rainha. Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno, diz São Bernardino de Siena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo abade, não foi diversa da de Jesus, como, pois, da monarquia do Filho pode ser separada a Mãe? Por isso deve julgar-se que a glória do reino não só é comum entre a Mãe e o Filho, mas também que é a mesmo para ambos.
“Se Jesus é Rei do universo, do un.iverso também é Maria Rainha, escreve Roberto abade. De modo que, na frase de São Bernardino de Siena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte, estão sujeitos ao domínio de Maria os Anjos, os homens e todas as coisas do Céu e da Terra, porque tudo  está também sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico Lhe dirige estas palavras: «Continuai pois, a dominar com toda a confiança; disponde a vosso arbítrio dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis, pertence-Vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as criaturas»” 27
Maria Rainha: obra-prima da misericórdia de Deus
À luz dos precedentes ensinamentos, ouçamos o Prof. Plinio Correa de Oliveira tecendo alguns comentários sobre a realeza da Santíssima Virgem:
“ Nossa Senhora Rainha é um título que exprime o seguinte fato. Sendo Ela Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e Esposa da Terceira  Pessoa, Deus, para honrá-La, deu-Lhe o império sobre o universo; todos os Anjos, todos os Santos, todos os homens vivos, todas almas  do Purgatório, todos os réprobos no Inferno e todos os demônios obedecem à Santíssima Virgem. De sorte que há uma mediação de poder, e não apenas de graça, pela qual Deus executa todas as suas obra e realiza todas as suas vontades por intermédio de sua Mãe.
“ Maria não é apenas o canal por onde o império de Deus passa, mas é também a Rainha que decide por uma vontade própria, consoante os desígnios do Rei.
Nossa Senhora é uma obra-prima do que poderíamos chamar a habilidade de Deus para ter misericórdia em relação aos homens...” 28
Rainha dos corações
Continua o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Luís Grignion de Montfort faz referência a essa linda invocação que é Nossa Senhora Rainha dos Corações”.
“Como coração entende-se, na linguagem das Sagradas Escrituras, a mentalidade do homem, sobretudo sua vontade e seus desígnios”.
“Nossa Senhora é Rainha dos corações enquanto tendo um poder sobre a mente e a vontade dos homens. Este império, Maria o exerce, não por uma imposição tirânica, mas pela ação da graça, em virtude da qual Ela pode liberar os homens de seus defeitos e atraí-los, com soberano agrado e particular doçura, para o bem que Ela lhes deseja. “Esse poder de Nossa Senhora sobre as almas nos revela quão admirável é a sua onipotência suplicante, que tudo obtém da misericórdia divina. Tão augusto é este domínio sobre todos os corações, que ele representa incomparavelmente mais do que ser Soberana de todos os mares, de todas as vias terrestres, de todos os astros do céu, tal é o valor de uma alma, ainda que seja a do último dos homens!
“Cumpre notar, porém, que a vontade (isto é, o coração) do homem moderno, com louváveis exceções, é dominada pela Revolução. Aqueles, portanto, que querem escapar desse jugo, devem se unir ao Coração por excelência contra-revolucionário, ao Coração de mera criatura no qual, abaixo do Sagrado Coração de Jesus, reside a Contra-revolução: ao Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
“Façamos, então, a Nossa Senhora este pedido: «Minha Mãe, sois Rainha de todas as almas, mesmo das mais duras e empedernidas que queiram abrir-se a Vós. Suplico-Vos, pois: sede Soberana de minha alma; quebrai os rochedos interiores de meu espírito e as resistências abjetas do fundo de meu coração. Dissolvei, por um ato de vosso império, minhas paixões desordenadas, minhas volições péssimas, e o resíduo dos meus pecados passados que em mim possam ter ficado. Limpai-me, ó minha Mãe, a fim de que eu seja inteiramente vosso»” 30

Rainha posta para a salvação do mundo
Ainda sobre o título de Nossa Senhora Rainha, não menos eloquentes são estas palavras do Papa Pio XII:
“A realeza de Maria é uma realidade ultraterrena, que ao mesmo tempo, porém, penetra até no mais íntimo dos corações e os toca na sua essência profunda, no que eles têm de espiritual e imortal.
“A origem das glórias de Maria, o momento solene que ilumina toda a sua pessoa e missão, é aquele em que, cheia de graça, dirigiu ao Arcanjo Gabriel o Fiat, que exprimia o seu assentimento à disposição divina. Ela se tornava assim, Mãe de Deus e Rainha, e recebia o ofício real de velar sobre a unidade e paz do gênero humano. Por meio d’Ela temos a firme esperança de que a humanidade se há de encaminhar pouco a pouco nesta senda da salvação. [...]
“Que poderiam, portanto, fazer os cristãos na hora atual, em que a unidade e a paz do mundo, e até as próprias fontes da vida, estão em perigo, se não volverem o olhar para Aquela que se lhes apresenta revestida do poder real? Assim como Ela envolveu já no seu manto o Divino Menino, primogênito de todas as criaturas e de toda a criação (Col. I, 15), assim também digne-se agora envolver todos os homens e todos os povos com a sua vigilante ternura; digne-se, como Sede da Sabedoria, fazer brilhar a verdade das palavras inspiradas, que a Igreja Lhe aplica: «Por meu intermédio reinam os reis, e os magistrados administram a justiça; por meio de Mim mandam os príncipes e os soberanos governam com retidão» (Prov. VIII, 15-16).

“Se o mundo hoje combate sem tréguas para conquistar sua unidade e para assegurar a paz, a invocação do reino de Maria é, para além de todos os meios terrenos e de todos os desígnios humanos de qualquer maneira sempre defeituosos, o clamor da fé e da esperança cristã, firmes e fortes nas promessas divinas e nos auxílios inesgotáveis, que este império de Maria difundiu para a salvação da humanidade” 31
Rainha que vencerá a Revolução
Como fecho desses comentários ao louvor em epígrafe, vem a propósito outro pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, particularmente oportuno nesta atual fase histórica, convulsionada pelo caos em quase todas as atividades humanas:
“A realeza de Nossa Senhora, fato incontestável em todas as épocas da Igreja, veio sendo explicitada cada vez mais a partir de São Luís Grignion de Montfort, até aquele 13 de julho de 1917, quando Maria anunciou em Fátima: «Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará». E uma vitória conquistada pela Virgem, é o seu calcanhar que outra vez esmagará a cabeça da serpente, quebrará o domínio do demônio e Ela, como triunfadora, implantará seu Reino.
“Portanto, devemos confiar em que Maria já determinou atender as súplicas de seus filhos contra-revolucionários, e que Ela, Soberana do universo, pode fazer a Contra-Revolução conquistar, num relance, incontável número de almas. Nossa Senhora Rainha poderá expulsar desta Terra os revolucionários impenitentes, que não querem atender ao seu apelo, de maneira que um dia Ela possa dizer: Por fim — segundo a promessa de Fátima — o meu Coração Imaculado triunfou!” 32
25) JOURDAJN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 272-282; Vol. V p. 605.
26) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. P. 34.
27 Liguori, afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 23-24.
28 Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA, Plinio. Conferência em 22/5/1968. (Arquivo pessoal).
29 GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 42.
30) Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA, Plinio. Conferências em 31/5/1972 e 13/3/1992. Arquivo pessoal).
31) PIO XII. Discurso no solene rito mariano de 1 de novembro de 1954. In: Documentos Pontifícios. Petrópolis: Vozes, 1955. p. 20-21.
32) Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferências em 31/5/1965 e 31/5/1991. (Arquivo pessoal).

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Senhora minha - Estrela da manhã

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Senhora minha
Desde a infância, Senhora do Céu e da Terra
Interpretando a etimologia do santíssimo Nome de Maria, escreve São João Eudes:
“Maria significa Senhora. Efetivamente, a gloriosa Virgem é, desde a sua infância, Senhora soberana do Céu e da Terra, dos homens, dos Anjos e de todas as criaturas; e tem um poder absoluto no Céu, na Terra e no Inferno, sobre os demônios, sobre as coisas corporais e espirituais, e sobre todas as obras de Deus. E isto por três títulos: como primogênita [das criaturas] e, portanto, herdeira de todos os estados do Padre Eterno; como Mãe de Deus, e como Esposa do Espírito Santo que, por conseguinte, participa de todos os direitos de seu Esposo”18.
Senhora de toda a criação, no Filho e pelo Filho
Não raras vezes, essa gloriosa soberania de Maria foi exaltada pela devoção dos Santos e dos autores eclesiásticos. Em seu bem documentado tratado sobre a Santíssima Virgem, D. Gregório Alastruey recolhe alguns desses louvores:
“Santo Efrém dirige-se a Ela dizendo: «Senhora de tudo, depois da Trindade... Virgem Senhora, Mãe de Deus». [...]
“São Germano de Constantinopla: «Senhora de todos os filhos da Terra».
“São João Damasceno: «Em verdade que é propriamente Mãe de Deus e Senhora, e sendo ao mesmo tempo escrava e Mãe do Criador, impera sobre toda a criação».
“Santo Ildefonso de Toledo: «O Senhora minha e minha Dominadora, Mãe de meu Senhor, serva de teu Filho; sois Senhora minha, porque fostes serva de meu Senhor».
“Santo Anselmo: «A Vós, ó magna e excelentíssima Senhora, quer meu coração amar-Vos!» [...]
“São Boaventura: «A Bem-aventurada Virgem Maria, como eleita Mãe de Deus, é a Senhora dos Anjos, os quais A servem como ministros»” 19
A seguir, conclui D. Alastruey: “Não compete a Maria direito estrito de domínio sobre todas as coisas criadas; no entanto, na dependência do direito de Cristo, a quem tudo está submetido, é e pode chamar-se, como Mãe sua amantíssima, Senhora de toda a criação, no Filho e pelo Filho.
“Ademais, enquanto sendo Mãe de Deus e consorte do Redentor, conseguiu tanto poder junto do Filho onipotente, Redentor do gênero humano, para impetrar o que quisesse, que nenhuma criatura nem autoridade alguma natural se compara em poder com Ela” 20.
Todas as criaturas aos pés da Virgem
Assim, toma particular realce este comentário do Pe. Henry Bolo:
“Maria é a Senhora deste mundo. Ela domina o oceano dos seres, Ela compartilha a soberania de seu Filho, tendo participado do resgate universal pelo qual foi adquirido esse império. Ela está revestida do sol, emblema da magnificência do mundo sobrenatural; Ela tem, sob seus pés, a lua, símbolo desta pálida criação que se desloca na noite. [...]
“A Igreja, intérprete do universo, coloca aos pés da Virgem todas as criaturas: para louvá-La, os campos não têm bastantes flores, nem o céu estrelas, nem as pedras preciosas brilho, nem as vozes cânticos, nem possuem as almas suficiente pureza. O triunfo de Maria é excedi do apenas pelo de seu Divino Filho.
“Se não é a Ela que Deus confere a honra incomunicável e reservada ao Verbo Encarnado, de sentar-se à sua direita, contudo a Virgem aparece portando o mesmo Deus, como o trono vivo donde emana a realeza, a justiça, a glória.
“Por isso Ela se chama Maria: a Soberana” 21.
Senhora do Senhor dos senhores
“Senhora dos Anjos, dos homens e das graças!” — exclama outro eminente mariólogo. “Senhora de seu Filho, que é ser Senhora do Senhor dos senhores.
“Senhora, que significa dona e dominadora dos Céus e da Terra, à qual estão sujeitas todas as potestades do Inferno. Dispensadora de todas as graças, e a quem, portanto, devemos recorrer na vida e na morte, na prosperidade e na adversidade. Ó Senhora minha!” 22
Estrela da Manhã
“É bem conhecida a passagem, em geral cheia de poesia, mas também de incertezas, da noite para o dia.
“Em meio às trevas da madrugada notam-se, de repente, alguns pontos do céu esbranquiçados, e se tem a impressão de que é o começo do alvorecer. De fato não o é: o firmamento se cobre novamente de negro, e só aos poucos vai se tornando pálido. É nesse momento que brilha, com todo o seu fulgor, a estrela da manhã ou, como muitos a chamam, estrela d’alva. É ela o anúncio da aurora, o sinal de que o sol está por vir” 23.
A evocativa beleza desse corpo celeste refulgindo nos albores do dia, constitui expressiva representação do esplendor da verdadeira Estrela da Manhã, Maria Santíssima.
Maria e o símbolo da estrela
“Nossa Senhora — comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — é chamada, muito a propósito, de Estrela luminosíssima. Incontáveis astros reluzem no firmamento, porém Ela é o mais resplandecente de todos: ou seja, Maria é a mais luminosa das criaturas.
“E por que é simbolizada pela estrela? Porque é durante a noite que cintilam as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma época de provação, de perigo e de apreensões. Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante de todas as estrelas!” 24
O Pe. Jourdain nos indica outras razões pelas quais Nossa Senhora é apresentada pela figura da estrela:
“O símbolo da estrela convém admiravelmente a Maria. Ele nos faz melhor compreender suas inefáveis grandezas e o que para nós Ela representa. «O sol é Jesus Cristo, e Maria é a estrela», diz Hugo de São Vitor. [...]
“Vários astros tiram toda a sua luz do sol. Maria testemunha que Ela também tirou sua luz do Sol de Justiça, Jesus Cristo. «Aquele que é poderoso, diz Ela, fez em Mim grandes coisas, e seu nome é santo». Ela reflete tão perfeitamente a luz divina, que a Igreja não hesita em Lhe aplicar várias passagens da Sagrada Escritura que concernem, em primeiro lugar, à Sabedoria incriada. [...]
“A estrela permanece sempre no firmamento, e jamais baixa sobre a terra. A Santíssima Virgem sempre levou uma vida celeste: todas as suas afeições estavam no Céu. Nunca aplicou seu espírito nas coisas terrenas e carnais. Assim o Esposo louva sua fronte, dizendo que «ela é como o monte Carmelo» (Cânt. VII, 5). Assim como o píncaro do Carmelo nunca se viu coberto pelas nuvens e gozou sempre de um ar puro, assim a alma de Maria jamais foi molestada pelas afeições terrestres e nebulosas: resplandecia Ela de celeste serenidade. [...]
“Os antigos viam a substância das estrelas como incorruptível, inacessível, portanto, à destruição que o tempo traz para as coisas da Terra. Maria foi isenta de toda corrupção: sua carne não conheceu a dissolução no túmulo, nem sua alma, a produzida pelo pecado.
“Uma estrela deita sua luz com grande fulgor, sem lesão de sua substância. A Bem-aventurada Virgem Maria, do mesmo modo, sem prejuízo de sua virgindade, projetou de suas castas entranhas o Cristo, a Luz do mundo. [...]
“As estrelas influem sobre as criaturas terrenas, iluminando-as e contribuindo à sua geração. Sem a luz do sol, da lua e das estrelas, o universo cairia numa espécie de caos. A Bem-aventurada Virgem Maria influi igualmente sobre o mundo obscurecido pelas trevas do pecado: Ela o ilumina, protege-o e o conserva sob seu domínio, de tal maneira que, se Ela não existisse, de há muito teria o mundo desaparecido. [...]
“Uma estrela, apesar de sua aparente imobilidade, percorre com extrema rapidez e perfeita regularidade distâncias inimagináveis. Assim, a Virgem Santíssima, apesar de sua firmeza inabalável, percorreu uma tão vasta trajetória na via da perfeição e dos méritos, que sobrepujou a todos os Santos e todos os Anjos. [...]
O Divino Sol de Justiça não eclipsa a beleza de Maria
“Existe, porém, uma diferença entre Maria e as estrelas. Quando aparece o sol, todos os demais astros se despojam de seus raios e parecem imergir no nada, O Divino Sol de Justiça não eclipsa a beleza de Maria. Pelo contrário, confere Ele maior brilho à sua glória. [...]

“[Podemos resumir com] Guilherme de Paris: «Maria, desde o seu nascimento, foi uma estrela, por sua preservação do pecado original que A tomou incorruptível; pela luz do bom exemplo que Ela espargiu em torno de si e que se estendeu ao mundo inteiro; por seu desapego das coisas da Terra: desprezou a glória, porque foi humilde, as riquezas porque foi muito pobre, os prazeres porque foi santíssima; pelo novo fulgor que Ela confere ao Paraíso, do qual sua glória é um dos mais belos ornamentos». [...]
Em importante conjuntura de sua admirável gesta contra-revolucionária, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira assim se dirigiu aos seus seguidores:
“A estrela da manhã aparece no período incerto entre a noite que ainda existe, e o dia que timidamente vai nascendo.
“Não é bem essa a época em que vivemos, na qual imperam as trevas da Revolução, porém na qual já se pressente o triunfo do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima?
“Portanto, é a Maria enquanto Stella Matutina, enquanto a Estrela que nos anuncia como iminente a aurora de seu Reino, é a Ela que devemos recorrer nas dificuldades referentes à causa contra-revolucionária, em nosso apostolado, e em todas as ocasiões em que a piedade nos sugira essa invocação.
“Estrela da Manhã, Vós que fostes, durante a noite inteira da espera, a nossa luz e a promessa do alvorecer, fazei com que desponte quanto antes o dia de vosso Reino!”
CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferências em 28-29/11/1991 e 1/12/1991. (Arquivo pessoal).
Estrela da Manhã que precedeu o Sol de Justiça
“A augusta Virgem Maria — prossegue o Pe. Jourdain — é a mais resplandecente das estrelas que cintilam na abóbada celeste: Ela é a estrela da manhã, de todas a mais bela e a mais brilhante. [...J
“A estrela da manhã marca o fim da noite precedente e o começo do dia. Maria foi igualmente o fim da noite, e o começo de um novo dia. Antes do nascimento de Maria, as trevas do pecado e a noite da infidelidade mantinham o universo sob tão cruel opressão, que não podia ele divisar o Sol de Justiça, o Cristo, o Messias prometido. Deus Se fez preceder, portanto, pela Estrela da Manhã, a fim de que os olhos do coração [humano], obcecados pelo lodo imundo das iniquidades e, em consequência, incapazes de fitar a grande e verdadeira luz, se habituassem primeiro à claridade da Estrela, para em seguida e gradualmente receber [...] o brilho de Jesus Cristo.
“Eis porque a graciosa Virgem Maria surge toda resplandecente, antes do nascer do verdadeiro Sol; eis porque nossa Estrela da Manhã precede o Salvador. Desde o aparecimento desta Estrela cintilante de claridade, dissipou-se a sinistra escuridão do crime e do erro, o culto dos ídolos foi abalado, e os oráculos dos falsos deuses reduzidos ao silêncio.
“A estrela da manhã, precedendo o sol, o traz consigo. A Bem-aventurada Virgem Maria introduziu entre nós o verdadeiro Sol de Justiça, que ilumina todo homem vindo a este mundo. Ela pode, portanto, ser chamada fonte de luz. É esta a saudação que Lhe dirige São Gregório o Taumaturgo: «Eu Vos saúdo, cheia de graça, fonte de luz, que ilumina todos os que creem em Vós
“E São Metódio igualmente Lhe diz: «Ao primeiro clarão, ó Santíssima Virgem, desta fulgurante luz que trouxe ao mundo o verdadeiro Sol de Justiça, desapareceu o espantoso horror das trevas, e o universo inteiro se encheu dos mais puros fulgores da verdade!»
Estrela que afugenta os demônios e embeleza a criação
“A estrela da manhã anuncia a chegada do sol, o que obriga às serpentes, aos lobos, às feras e aos animais selvagens a entrar novamente em suas tocas; ela espanta as aves noturnas e convida os pássaros do céu a entoarem seus cantos. A Bem-aventurada Virgem Maria não foi apenas a mensageira do Sol de Justiça. Ela O trouxe em seu seio; Ela pôs em fuga as bestas infernais, isto é, os demônios; Ela dissipou, como aves da noite, os fátuos erros do paganismo; e Ela incitou aos próprios Anjos e a todas as almas santas a celebrar os louvores do Senhor. [...]
“A estrela da manhã amedronta os ladrões, fortifica os doentes, a tudo embeleza. Maria afugentou os ladrões que são os demônios. Desde que Ela deu ao mundo o Filho de Deus feito homem, Satanás compreendeu que ele estava destituído de seu usurpado império. Júpiter, Marte, Vênus, Saturno e as outras monstruosas divindades adoradas pelos homens, eclipsaram-se vergonhosamente. [...]
“Maria, como a estrela da manhã, reanima os enfermos, quer dizer, os pecadores, pois Ela engendrou o Sol do qual foi dito pelo Profeta Malaquias (IV, 2): «0 sol da justiça se levantará para vós que temeis meu nome, e encontrareis vossa salvação sob suas asas». Ademais, por sua intercessão, Ela afugenta as tentações da concupiscência e os maus pensamentos, e sana todas as enfermidades fortificando os doentes.
“Maria a tudo embeleza. Com efeito, desde que, após tantos séculos de trevas, Ela se mostrou ao mundo, e com Ela seu Divino Filho, sua beleza, sua bondade, sua humildade, seu amor, sua demência, sua misericórdia, sua benevolência, espargiram um tão vivo fulgor, que o mundo pareceu mais belo aos olhos de Deus e dos Anjos, como não era antes da queda do primeiro homem, e a Terra mesma estremeceu de júbilo. [...1
Fulgurante astro no firmamento da santidade
“Entre todos os astros da noite, a estrela da manhã é aquele que cintila mais vivamente. A Bem-aventurada Virgem Maria elevou- se acima dos Santos do Antigo Testamento. Ela reluz no meio deles com incomparável brilho. Seus raios se obscurecem ao aparecimento de Maria, porque suas virtudes, comparadas às d’Ela, perdem todo o fulgor.
“Que são, em presença das perfeições de Maria, a inocência de Abel, a justiça de Noé, a obediência de Abraão, a paciência de Jacob, a castidade de José, a doçura de Moisés, a coragem de Josué, a caridade de Samuel, a humildade de David, o zelo de Elias, a abstinência de Daniel, a eminente santidade de São João Batista, a candura de Simeão, a piedade de Ana, a santidade de Isabel? Assim como em comparação com Deus ninguém é santo, de igual modo ninguém, posto em paralelo com Maria, é perfeito, puro e ornado de extraordinárias virtudes.
“Tal é o sentimento de São Jerônimo, que, após enumerar várias santas mulheres do Antigo Testamento, acrescenta: «Silencio-me sobre Ana, Isabel e as outras mulheres. Fraco é o seu brilho, empalidecendo e se eclipsando em presença da exuberante luz de Maria». Bem merece Ela, pois, o nome de Estrela da Manhã.
“Ao despontar da estrela d’alva, cai o orvalho a refrescar os campos e a fecundar a terra. Ao aparecimento da Mãe de Deus, difundiu-se um abundante rocio de graça sobre o mundo: o Verbo de Deus desceu ao seu seio para nele se revestir de nossa natureza humana.
“Enfim, não se passa das trevas da noite à luz do dia, sem que a estrela da manhã tenha espargido sua doce claridade. Do mesmo modo, é impossível passar das trevas do pecado à luz da graça e das virtudes, sem a intercessão de Maria” 25.
18) EUDES, Juan. La Infancia Admirabile dela Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 295-296.
19) ALASTRUEY, Gregório. Tratado dela Vuìgen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 823.
20) Idem, p. 827.
21) BOLO, Henry. Pleine de Grace. Paris: René Haton, 1895. p. 55-56.
22) BARCON, Javier. Aprende a orar. Apud ROYO MARIN, Antonio. La Virgen María, Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 446.
23) Cfr. CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferências em 29/11/1991 e 1/12/1991. (Arquivo pessoal).
24) Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 24/8/965. (Arquivo pessoal).
25) JOURDAJN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 272-282; Vol. V p. 605.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 


Mons João Clá Dias
MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
                                   HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.

V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez habitar.
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
V Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R. Amém.
Comentários 
A predestinação de Maria Santíssima é a ideia central deste Hino. Desde toda a eternidade, Deus A elegeu para a excelsa missão de conceber e dar à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, e “para realizar n’Ela e por Ela as maiores maravilhas que se propôs fazer no céu e na terra”1.
Escolhida para Soberana do mundo e Rainha dos Céus, Virgem das virgens, Maria possui a plenitude da graça, sendo a Estrela da Manhã que anuncia o dia de nossa Redenção, e ilumina todo homem que vem a este mundo.
Ao decretar em seus eternos desígnios a Encarnação do Verbo, não o fez Deus de modo abstrato e indeterminado, mas sim especificando os pormenores das condições necessárias para o cumprimento de sua soberana vontade.
Se o Filho se encarna, precisa de uma Mãe que O dará à luz, permanecendo virgem. Além disso, quanto seja possível, esta Mãe deve ser digna d’Ele. Logo, antecedentemente, terá todos os privilégios que o Padre Eterno Lhe concedeu: isenção do pecado original e do pecado atual, a plenitude da graça, e uma formosura de alma e de corpo, excedida apenas pela do Homem-Deus.2
“Depois de Jesus Cristo Nosso Senhor — escreve São João Eudes —, Maria é a mais admirável obra-prima que tenha saído do conselho sempiterno de sua Divina Majestade”3.
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
Comentários
Exprimem estes dois versos um convite para que nossa alma se anime a cantar os louvores de Maria Santíssima.
Certa vez, estando a grande Santa Gertrudes em elevada oração, indagava que maior agrado poderia dar a Deus naquele momento. O Senhor, então, insinuou-lhe: “Põe-te diante de minha Mãe que a meu lado está sentada, e procura enaltecê-La” ‘.

Honrando a Virgem Santíssima, glorificamos a Deus

Com efeito, no dizer de São Luís Grignion de Montfort, altamente glorificamos a Deus, venerando a sua Imaculada Mãe:
“Nunca pensais em Maria, sem que Ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca A louvais nem honrais, sem que Ela convosco louve e honre a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu A chamaria: a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e A chamou bem-aventurada, porque Ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: «Magnificat anima mea Dominum» — Minha alma glorifica o Senhor (Lc. 1, 46). 0 que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias: quando A louvamos, amamos, honramos ou Lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado e recebe por Maria e em Maria” .
Toda a bibliografia publicada em língua estrangeira, presente neste livro, foi traduzida pelo autor. Prescinde-se, deste modo, a habitual menção de tradução minha a fim de não tornar repetitivo, e ser mais agradável ao leitor, o sistema de notação em rodapé com a respectiva referência das obras.
Semelhante é o pensamento do Pe. Ventura, segundo o qual a Virgem Santíssima “recomenda a Jesus Cristo todo aquele que A invoca e tem um sentimento de filial ternura para com Ela; e Jesus Cristo, por sua vez, confia à sua Mãe todo aquele que n’Ele crê e O ama como a seu Senhor. Assim, pois, todo filho fiel a Maria é, ao mesmo tempo, discípulo amado de Jesus Cristo” 6

Maria é digna de todo louvor

Ademais, recitando o Pequeno Ofício, associamo-nos às homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima, desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Éfeso que A proclamou Mãe de Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.
“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo louvor, de todo elogio e de toda glorificação.
“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias. [...] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo, Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo. [...1 Maria é digna de todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O em seu regaço, nutriu O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias maternas a carne do Filho de Deus. [...]
“Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.
“Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas; [...] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta que avança brilhante como a aurora quando se ergue, bela como a lua e eleita como o sol?» (Cânt. VI, 9). [...]
“Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem, admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram bem-aventurada”7.
É a este santo e filial dever que nos consagramos, bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.
V. Em meu socorro vinde já , Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Afirma São Pedro (I Pdr. V, 8) estar o demônio a rugir como leão ao nosso redor, a fim de nos perder. Igualitário, desde aquele seu revoltoso brado non serviam, que o fez merecer os castigos eternos, tem ele ódio a qualquer superioridade, e por isso nos move incessante guerra para nos roubar a salvação.
Militia est vita hominis super terram (Jó VII,1). Nossa vida é constante combate contra um adversário naturalmente muito mais for te do que nós. Entretanto, poderosíssimo escudo nos foi dado: basta recorrermos à proteção da Bem-aventurada Virgem, que o auxílio vencedor nos virá de imediato.
Essa é a súplica que iniciará cada um dos Hinos do Pequeno Ofício.
Comenta o santo autor de “Glórias de Maria” que “em todas as batalhas contra o Inferno certamente seremos sempre vencedores, se recorrermos à Mãe de Deus e nossa. [...] Ela foi posta num alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo de seu patrocínio.
“Eu lancei ao alto os meus ramos como a palmeira em Cades» (Ecli. XXIV, 18), isto é, acrescenta Santo Alberto Magno, eu estendo minha mão sobre vós para vos proteger. «Filhos, parece Maria nos dizer quando o demônio vos assaltar, recorrei a Mim, olhai para Mim e tende ânimo, porque em Mim, que vos defendo, vereis juntamente a vossa vitória».
“Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do Inferno. [...]

Maria socorre prontamente os que A invocam

“[Por outra parte], vendo Maria nossas misérias — continua Santo Afonso —, se apressa a fim de nos socorrer com a sua misericórdia. Novarino acrescenta que n’Ela desconhece demoras o desejo de fazer-nos bem; e porque não é avara guardadora de suas graças, não tarda, como Mãe de misericórdia, em derramar sobre os seus servos os tesouros de sua benignidade.
“Oh! como é pronta esta boa Mãe para valer a quem A invoca! Explicando a passagem dos Cânticos (I 5), diz Ricardo de São Lourenço que Maria é tão veloz em exercer misericórdia para com quem Lha pede, como são velozes em suas corridas os cabritos. O mesmo autor assevera-nos que a compaixão de Maria se derrama sobre quem a pede, ainda que não medeiem outras orações mais que a de uma breve Ave-Maria.
Pelo que, atesta Novarino que a Santíssima Virgem não apenas corre, mas voa em auxilio de quantos A invocam. No exercício de sua misericórdia, Ela imita a Deus, que também voa sem demora em socorro dos que O chamam, porque é fidelíssimo no cumprimento da promessa: «Pedi e recebereis» (Jo. XVI, 24). Assim afirma Novarino. Do mesmo modo procede Maria. Quando é invocada, logo está pronta para ajudar a quem A chamou em seu auxilio”8
O papagaio que repetia: “Ave Maria”
O frade Bernardino de Busti lembra o tocante fato de que um papagaio, ao qual tinha ensinado a dizer Ave Maria, sendo perseguido por um gavião, gritou Ave Maria!, e logo caiu por terra, morto, o predador.
“Com esse fato maravilhoso quis o Senhor significar que, se um animal irracional se livrou da morte, só com pronunciar o nome de Maria, quanto mais livre estará de cair nas mãos do demônio quem, nos assaltos do mesmo, for atento em invocar a divina Mãe!
«Nada mais temos a fazer, por conseguinte, quando nos vem tentar o demônio, diz São Tomás de Villanueva, senão à semelhança dos filhotes dos pássaros, que à vista do gavião se refugiam sob as asas da mãe, assim que nos sentirmos assaltados pelas tentações, logo, sem discutir com elas, buscarmos refúgio sob o manto de Maria?’.”
LACROJX, Pascoal. A Virgem Maria, seguro refúgio dos pecadores. Petrópolis: SCJ, 1935. p 134.

Nossa Senhora pode e quer nos socorrer contra o demônio

Ouçamos o que sobre a proteção de Maria nos diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Como onipotente Soberana de todo o universo, por vontade de Deus, Nossa Senhora tem o poder de nos auxiliar e quer inesgotavelmente nos socorrer em todas as nossas necessidades. Logo, se pedirmos, Ela nos socorrerá.
“Para o êxito de nosso apostolado, para o êxito de nossa vida interior, precisamos, a cada passo, da proteção de Nossa Senhora. E Ela a todo momento está disposta a nos conferir os auxílios mais inesperados, mais súbitos, mais espetaculares.
“Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro. E o perpétuo socorro é um amparo, é um ato de misericórdia, é um ato de piedade perpétuo, quer dizer, ininterrupto, que não se detém nunca, que não cessa nunca, que não se suspende nunca. Nunca significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso: por pior que seja a situação de quem A invoque, a Mãe de misericórdia o socorrerá.
“Por isso, quanto mais nossas almas estiverem tentadas, tanto mais devemos rogar à Santíssima Virgem. Ela é a Rainha de toda a criação e pode, quando queira e onde queira, derrotar fragorosamente o espírito das trevas, impondo a sua própria soberania.
“A fim de nos incutir confiança nas horas das tentações, e de nos fazer compreender que a estas pode suceder a qualquer instante uma singular e aprazível consolação, Maria pratica fulgurantes ações em favor das almas, contra Satanás. O demônio mais insistente, mais persistente, mais renitente, nada é para aquele que a Ela recorre” .

Protetora dos que lutam contra a Revolução 10

De modo especial devem implorar esse perpétuo auxílio de Maria aqueles que se empenham na luta contra-revolucionária. E ainda o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira quem nos instrui a este respeito, em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução:
“O quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos supremos lances de uma luta, que chamaríamos de morte, se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução. [...] A primeira, a grande, a eterna revolucionária, inspiradora e fautora suprema desta Revolução, como das que a precederam e lhe sucederem, é a serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada.
“Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.
“A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do comunismo no mundo inteiro, por fim seu Imaculado Coração triunfará” “.

Maria é nosso conforto na morte

Lembremo-nos, enfim, daquele extremo socorro que todos os dias solicitamos à Santíssima Virgem, ao recitarmos a Ave Maria.
Essa boa Senhora e Mãe — escreve Santo Afonso de Ligório — não abandona seus fiéis servos nas suas angústias, e especialmente nas da morte, que de todas são as piores: “Como é [Ela] nossa vida no tempo do nosso degredo, assim também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve Ela também a graça de assistir na morte todos os predestinados. Por isso a Santa Igreja manda implorar à Bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte.
“Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o Inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a eternidade. [...] Costumado a tentá-la durante a vida, [o demônio] não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. «Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões» (Is. XIV, 21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à porfia tentam perdê-lo. [...]
‘Ah! como fogem, [porém], os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria em nosso favor, que poderemos recear de todo o Inferno? Reanimava-se David para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. «Pois ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolaram» (SI. XXII, 4, 5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o lenho da Cruz, e pela vara a intercessão de Maria, que foi a vara profetizada por Isaías (XI, 11). Esta divina Mãe, diz São Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso Santo Antonino, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? [...]
“Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis moribundos, manda o Príncipe São Miguel com todos os seus Anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, especialmente as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a Ela.
Três lírios atestam a virgindade perpétua de Maria
Naquela doce era em que a roseira da fé produzia as mais belas flores, lemos na vida do Bem-aventurado Egídio de Assis, predileto discípulo de São Francisco, a seguinte graciosa história, na qual refulge a perpétua virgindade da Mãe de Deus:
“Um pio e douto frade dominicano, estando havia muitos anos gravemente tentado contra o dogma da perpétua virgindade de Maria, quis, por fim, ir ao encontro do humilde franciscano, que tinha o dom de acalmar as consciências perturbadas, a fim de lhe expor suas tentações. O Bem-aventurado Egídio, iluminado do alto, saiu a seu encontro fora da porta do convento e, saudando-o, disse: «Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus». E, assim dizendo, bateu com o bastão na terra, nela brotando imediatamente um formoso e cândido lírio. Tornou a bater na terra e a repetir: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus»’. Logo surgiu um segundo lírio, ainda mais belo do que o primeiro. Bateu pela terceira vez na terra, replicando: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus»’. E se viu nascer um terceiro lírio que, em beleza e brancura, vencia os outros dois.
“Dito isto, o Bem-aventurado Egídio voltou-lhe, sem mais, as costas e entrou no convento, deixando aquele religioso atônito e, ao mesmo tempo, livre de suas violentas tentações.
“Tendo sabido, depois, que aquele frade era o Bem-aventurado Egídio de Assis, concebeu uma grande estima por ele e, enquanto viveu, guardou aqueles lírios, como testemunhos irrefragáveis da perpétua virgindade de Maria.”
SURIO, Vita dei B. Egidio, apud  ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 209.
Maria é nosso auxílio no tribunal divino
“Quando uma alma está para deixar esta vida, diz Isaías, se conturba o Inferno todo e manda os demônios mais terríveis a tentá-la antes de sair do corpo e depois acusá-la, quando se apresentar ao tribunal de Jesus Cristo. «O Inferno via-se lá embaixo à tua chegada todo turbado, e diante de ti levanta gigantes» (Is. XIV 9). Mas Ricardo diz que os demônios, em se tratando de uma alma patrocinada por Maria, não terão atrevimento nem ainda para acusá-la. Pois sabem muito bem que o Juiz nunca condenou, nem condenará jamais uma alma protegida por sua grande Mãe. São Jerônimo escreve à virgem Eustóquio que Maria não só socorre os seus amados servos na sua morte, mas também os vem esperar na passagem para a eternidade, a fim de os animar e de os acompanhar até ao tribunal divino”12.
Glória ao Padre...
Explica-nos o grande e renomado teólogo Fr. Antonio Royo Marín, O. P., dominicano de nossos dias, constituir o Gloria Patri “a principal fórmula que desde os tempos primitivos a Igreja usa para honrara Santíssima Trindade. Com ela se rende às Três Beatíssimas Pessoas uma homenagem de reconhecimento, amor, adoração e louvor de sua infinita excelência. A Igreja a emprega constantemente em sua liturgia, e é obrigatória no final de cada salmo, na recitação do Ofício divino.
“Não devemos esquecer de que a glória da Santíssima Trindade é o fim último e absoluto de toda oração e da própria existência de todas as criaturas, incluindo Maria e o mesmo Jesus enquanto homem. [...] Se havemos de ir a Jesus por Maria, o termo final não pode ser outro senão Deus uno e trino, de acordo com São Paulo: «Todas as coisas vos pertencem [...j, o mundo, a vida ou a morte, as coisas presentes, ou as futuras, tudo é vosso. Vós, porém, sois de Cristo, e Cristo de Deus» (I Cor. III, 21-23)” 13
Salve, á Virgem Mãe
Grande milagre operado pelo Onipotente
“Não há título maior que o de Mãe de Deus”, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. “Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo preza tanto a virgindade que desejou fosse sua Mãe também virgem, operando em favor d’Ela um estupendo milagre que excede à nossa imaginação: Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto.
“Segundo a bela comparação que fazem os teólogos, assim como Nosso Senhor saiu do sepulcro sem esforço e sem nada quebrantar, assim deixou Ele o claustro materno, sem detrimento da virgindade de Maria Santíssima” 14
Nossa Senhora, Virgem e Mãe! Eis um dos grandes milagres operados pela destra do Onipotente. O Doutor Melífluo, São Bernardo, viu nesta extraordinária ação da Providência um dos privilégios que mais distingue a Virgem Santíssima de todas as outras criaturas:
“Não há coisa, na verdade, que mais me deleite, porém tampouco há que mais me atemorize, que o falar da glória da Virgem Mãe. Confesso minha imperícia, não oculto minha grande pusilanimidade. Porque [...] se me ponho a louvar sua virgindade, descubro que muitas outras foram, depois d’Ela, virgens. Se me ponho a exaltar sua humildade, encontrar-se-ão talvez muito poucos, mas se acharão, que, a exemplo de seu Divino Filho, se fizeram mansos e humildes de coração. Se engrandeço a multidão de suas misericórdias, vêm-me à lembrança alguns homens e também mulheres que foram misericordiosos.
“Uma coisa há na qual Ela não teve antes par nem semelhante, nem o terá jamais, e foi em unir as alegrias da maternidade com a honra da virgindade. «Maria, disse Jesus, escolheu para si a melhor parte». Ninguém duvida, com efeito, que se é boa a fecundidade conjugal, todavia é melhor a castidade virginal; pois bem, supera imensamente às duas a fecundidade virginal ou a virgindade fecunda. Privilégio é este próprio de Maria e que não se concederá jamais a nenhuma outra mulher. [...] É prerrogativa singular d’Ela e por isto mesmo inefável: ninguém poderá compreendê-la, nem explicá-la.
“Que dizer, então, se nos lembrarmos de quem Maria se tornou Mãe? Que língua, fosse mesmo angélica, seria jamais capaz de louvar bastante a Virgem Mãe? Mãe, não de um qualquer, mas de Deus. Duplo milagre, duplo privilégio, que de modo maravilhoso se harmonizam. Porque nem era digno da Virgem outro Filho, nem de Deus, outra Mãe”.15
Semelhante é o pensamento de São Tomás de Aquino, ao comentar este versículo do Magnificat: “Porque em Mim fez grandes coisas o que é poderoso, e cujo nome é santo” (Lc. 1, 49):
“Manifesta a Virgem que será proclamada bem-aventurada [...] «porque fez em Mim grandes coisas o que é poderoso».
“Que grandes coisas Vos fez? Creio que [estas]: sendo criatura, daríeis à luz o Criador, e que sendo escrava, engendraríeis o Senhor, para que Deus redimisse o mundo por Vós, e por Vós também lhe devolvesse a vida. E sois grande, porque concebestes permanecendo virgem, superando, por disposição divina, à natureza. Fostes reputada digna de ser mãe sem obra de varão; e não uma qualquer mãe, mas a do Unigênito Salvador. A isto se refere o Princípio do cântico, onde diz: «Minha alma engrandece o Senhor». Só aquela alma, à qual Deus se dignou fazer grandes coisas, é que pode enaltecê-Lo com apropria dos louvores.
“Diz, pois: «O que é poderoso», para que se alguém duvide da verdade da Encarnação, permanecendo virgem depois de haver concebido, refere este milagre ao grande poder d’Aquele que o fez” 16
Considerando o extraordinário fato de Maria conciliar em si a perpétua virgindade e a maternidade divina, exclama um piedoso autor do século passado:
“O Virgem, a maravilha é precisamente a virgindade fecunda: o milagre é precisamente vossa condição inaudita de Virgem Mãe! [...]
“O Maria, Virgem Mãe, sois doravante um ideal que arrebatará todos os amantes da verdadeira beleza: Virgem Mãe, os doutores e os artistas tomar-vos-ão à porfia por tema de suas mais sublimes composições, e todos, após cansarem o próprio gênio, deporão a pena ou o pincel, sem ter podido exprimir tudo o que solicitava os ardores de seu anelo e os entusiasmos de seus sentimentos!

“Virgem Mãe, nós Vos saudamos, fazendo eco às palavras do Anjo embaixador que falou, ele mesmo, sob o as ordens de Deus! Se nos é tão agradável considerar vossas grandezas, é que elas são o fundamento de nossa esperança em Vós. [...] Vós conseguistes fazer descer um Deus sobre a terra; Vós sabereis, pois, fazer chegar à minha alma árida algumas gotas de orvalho celeste. Vossa graça, divino amálgama de humildade e de pureza, revestiu um Deus de carne humana; e ela poderá me revestir da túnica da santidade!” 17
1) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 35.
2) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 73-74.
3) EUDES, Op. cit. p. 37.
4) GERTRUDIS. Revelaciones. Tradução do Pe. Timoteo P. Ortega, 2. ed. Buenos Aires: Benedictina, 1947. p. 192.
5) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 216.
6) RAULICA, Ventura de. Tratado sobre el culto dela Santísima Virgen. Madrid: Leocardio Lopez, 1859. p. 91.
7) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 140; 142-43; 145-46.

8) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 35; 88 e 95.
9) Cfr. CORRÊA DE OLWEIRA, Plinio. Conferências em 23/5/1968, 18/11/1968 e
12/3/1970. (Arquivo pessoal).
10) 0 termo “Revolução” é usado neste livro no sentido que the é atribuído na obra “Revolução e Contra-Revolução” do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, (cfr. nota seguinte). Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a Civilização Cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo nas suas múltiplas variantes e na sua sutil metamorfose dos presentes dias. Por sua vez, a “Contra-Revolução” é o movimento que se opõe em tudo à Revolução assim entendida, procurando combatê-la por todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz. Chamam-se, por extensão, “revolucionários” e “contra-revolucionários” os seguidores daquele e deste movimento, respectivamente.
11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 3. ed. São Paulo: Chevalerie, 1993. p. 229-230.
12) LIGUORI Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 67-69.
13) ROYO MARÍN, Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 471.

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