Vós sois a Virgem florida
O louvor em epígrafe se
reporta ao estupendo milagre operado por Deus, no Antigo Testamento, quando fez
florescer a vara de Aarão. Quis o Senhor, por meio desse admirável sucesso,
declarar que o ofício divino ficaria vinculado à família do irmão de Moisés.
Com efeito, Aarão
exercia o encargo de Sumo Sacerdote, auxiliado pelos filhos de Levi. Ambiciosos
de tais honras, os outros judeus se puseram a murmurar.
Disse então o Senhor a
Moisés (Num. XVII, 1-9): “Fala aos filhos de Israel, e recebe deles uma vara por
cada tribo, doze varas de todos os príncipes das tribos, e escreverás o nome de
cada um deles sobre a respectiva vara. Mas o nome de Aarão estará sobre a vara
da tribo de Levi, e o nome do chefe de todas as outras tribos estará escrito
separadamente cada um na sua vara. E pô-las-ás no Tabernáculo da Aliança,
diante do Testemunho, onde Eu te falarei. A vara daquele que Eu escolher dentre
eles, florescerá; e (deste modo) farei cessar os queixumes dos filhos de
Israel, com que murmuram contra vós. E Moisés falou aos filhos de Israel; e
todos os príncipes lhe deram as varas, uma por cada tribo; e acharam-se doze
varas, fora a vara de Aarão. E Moisés, tendo-as posto diante do Senhor no
Tabernáculo do Testemunho, voltando no dia seguinte, achou (que era) pela tribo
de Levi, e que, aparecendo os botões, tinham saído flores, as quais, estendidas
as suas folhas, se transformaram em amêndoas. Moisés, pois, levou todas as
varas de diante do Senhor a todos os filhos de Israel, os quais as viram e
receberam cada um a sua vara.”
Vara da qual nasceu
Jesus Cristo, flor de salvação e fruto de vida
Segundo o Pe. Jourdain,
“a vara de Aarão coberta de folhas, de flores e de frutos, foi também figura de
Maria. [...]
“Essa vara que
floresceu por um prodígio e deu seu fruto sem ter sido plantada, e sem ter
raízes nem seiva fecundante, simboliza admiravelmente Maria, que, colocada no
Tabernáculo, e sendo Ela mesma o templo vivo do Espírito Santo, concebeu sem
intervenção humana, e sem nenhum socorro terrestre deu à luz esse bendito fruto
que proporciona a todos os homens, e neles conserva, a vida sobrenatural da
alma”.
Considerando o milagre
da vara coberta de flores, escreve Henry Le Mulier, baseado nos testemunhos dos
Santos Padres:
“Quem não reconhecerá,
sob este emblema, a Virgem saída da raiz de Jessé, a verdadeira Mãe de Deus? A
vara de Aarão deu flores e frutos: assim Maria trouxe à luz Nosso Senhor Jesus
Cristo, vera flor de salvação, único fruto de vida.
“Esta vara não foi
irrigada, não pôde haurir na terra os sucos que servem habitualmente à nutrição
das plantas; e entretanto ela se encheu de seiva e se cobriu de botões: assim a
Virgem concebeu sem qualquer socorro natural, sem nada que tocasse à corrupção
do mundo.
“A vara de Aarão é toda
branca, sem córtice e sem nó, para melhor representar a candura e a pureza de
Maria, em quem não se encontrou o nó do pecado original, nem o córtice do
pecado atual.
“Aquela vara se ergue
direita, sem germes nem rebentos, portando em sua extremidade, flores e frutos;
assim a Virgem de Jessé, embora saída da tortuosa raiz dos patriarcas e dos
profetas, eleva-se aprumada como o junco dos marnéis, trazendo em seu cimo a
flor dos Cânticos.
Vara que deu
testemunho em favor do Divino Sacerdote
“A vara do irmão de
Moisés era um ramo de amendoeira, como o fizeram conhecer a flor e o fruto,
para significar que, assim como a amendoeira anuncia a vinda do sol e
testemunha sua presença, dado ser ela a primeira de todas que se cobre de
flores na primavera e a última que perde sua folhagem, assim a vinda de Maria
foi o anúncio do advento de seu Filho, e a presença d’Ela é um seguro penhor da
presença do Filho.
“A vara de Aarão se
tornou miraculosamente fértil para dar testemunho em favor do Sumo Sacerdote
figurativo. O próprio Espírito de Deus desceu sobre Maria e A tornou fecunda,
para a consagração do Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec”.
Vara sublime que se
eleva até o trono de Deus
Inspirado por seu
ardoroso amor à Virgem florida, exclama São Bernardo:
“Que significava aquela
vara de Aarão, que floresceu estando seca, senão a Maria concebendo, porém sem
concurso de varão? [...] Não danificou ao verdor da vara a saída da flor, nem
ao pudor da Virgem, o parto sagrado. [...]
“A Virgem Mãe de Deus é
esta vara, e seu Filho, a flor. Flor sem dúvida é o Filho da Virgem, flor
cândida e rubra, eleita entre mil, flor em que os Anjos desejam mirar-se, flor
cuja fragrância ressuscita os mortos, e, como ele mesmo atesta, flor é do campo
e não do horto. Floresce naquele, sem diligência alguma do homem. Por ninguém é
semeada, nem tratada com adubos. Assim inteiramente floresceu o seio da Virgem.
Assim as entranhas intactas, íntegras e castas de Maria, como prado de eterno
verdor, produziram a flor, cuja formosura não experimentará a corrupção, e cuja
glória é para sempre imarcescível.
“Ó Virgem, vara
sublime, a que altura elevas tua sagrada copa! Até Àquele que está sentado no
trono, até ao Senhor da Majestade!”