quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 


Mons João Clá Dias
MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
                                   HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.

V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez habitar.
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
V Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R. Amém.
Comentários 
A predestinação de Maria Santíssima é a ideia central deste Hino. Desde toda a eternidade, Deus A elegeu para a excelsa missão de conceber e dar à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, e “para realizar n’Ela e por Ela as maiores maravilhas que se propôs fazer no céu e na terra”1.
Escolhida para Soberana do mundo e Rainha dos Céus, Virgem das virgens, Maria possui a plenitude da graça, sendo a Estrela da Manhã que anuncia o dia de nossa Redenção, e ilumina todo homem que vem a este mundo.
Ao decretar em seus eternos desígnios a Encarnação do Verbo, não o fez Deus de modo abstrato e indeterminado, mas sim especificando os pormenores das condições necessárias para o cumprimento de sua soberana vontade.
Se o Filho se encarna, precisa de uma Mãe que O dará à luz, permanecendo virgem. Além disso, quanto seja possível, esta Mãe deve ser digna d’Ele. Logo, antecedentemente, terá todos os privilégios que o Padre Eterno Lhe concedeu: isenção do pecado original e do pecado atual, a plenitude da graça, e uma formosura de alma e de corpo, excedida apenas pela do Homem-Deus.2
“Depois de Jesus Cristo Nosso Senhor — escreve São João Eudes —, Maria é a mais admirável obra-prima que tenha saído do conselho sempiterno de sua Divina Majestade”3.
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
Comentários
Exprimem estes dois versos um convite para que nossa alma se anime a cantar os louvores de Maria Santíssima.
Certa vez, estando a grande Santa Gertrudes em elevada oração, indagava que maior agrado poderia dar a Deus naquele momento. O Senhor, então, insinuou-lhe: “Põe-te diante de minha Mãe que a meu lado está sentada, e procura enaltecê-La” ‘.

Honrando a Virgem Santíssima, glorificamos a Deus

Com efeito, no dizer de São Luís Grignion de Montfort, altamente glorificamos a Deus, venerando a sua Imaculada Mãe:
“Nunca pensais em Maria, sem que Ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca A louvais nem honrais, sem que Ela convosco louve e honre a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu A chamaria: a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e A chamou bem-aventurada, porque Ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: «Magnificat anima mea Dominum» — Minha alma glorifica o Senhor (Lc. 1, 46). 0 que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias: quando A louvamos, amamos, honramos ou Lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado e recebe por Maria e em Maria” .
Toda a bibliografia publicada em língua estrangeira, presente neste livro, foi traduzida pelo autor. Prescinde-se, deste modo, a habitual menção de tradução minha a fim de não tornar repetitivo, e ser mais agradável ao leitor, o sistema de notação em rodapé com a respectiva referência das obras.
Semelhante é o pensamento do Pe. Ventura, segundo o qual a Virgem Santíssima “recomenda a Jesus Cristo todo aquele que A invoca e tem um sentimento de filial ternura para com Ela; e Jesus Cristo, por sua vez, confia à sua Mãe todo aquele que n’Ele crê e O ama como a seu Senhor. Assim, pois, todo filho fiel a Maria é, ao mesmo tempo, discípulo amado de Jesus Cristo” 6

Maria é digna de todo louvor

Ademais, recitando o Pequeno Ofício, associamo-nos às homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima, desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Éfeso que A proclamou Mãe de Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.
“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo louvor, de todo elogio e de toda glorificação.
“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias. [...] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo, Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo. [...1 Maria é digna de todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O em seu regaço, nutriu O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias maternas a carne do Filho de Deus. [...]
“Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.
“Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas; [...] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta que avança brilhante como a aurora quando se ergue, bela como a lua e eleita como o sol?» (Cânt. VI, 9). [...]
“Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem, admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram bem-aventurada”7.
É a este santo e filial dever que nos consagramos, bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.
V. Em meu socorro vinde já , Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Afirma São Pedro (I Pdr. V, 8) estar o demônio a rugir como leão ao nosso redor, a fim de nos perder. Igualitário, desde aquele seu revoltoso brado non serviam, que o fez merecer os castigos eternos, tem ele ódio a qualquer superioridade, e por isso nos move incessante guerra para nos roubar a salvação.
Militia est vita hominis super terram (Jó VII,1). Nossa vida é constante combate contra um adversário naturalmente muito mais for te do que nós. Entretanto, poderosíssimo escudo nos foi dado: basta recorrermos à proteção da Bem-aventurada Virgem, que o auxílio vencedor nos virá de imediato.
Essa é a súplica que iniciará cada um dos Hinos do Pequeno Ofício.
Comenta o santo autor de “Glórias de Maria” que “em todas as batalhas contra o Inferno certamente seremos sempre vencedores, se recorrermos à Mãe de Deus e nossa. [...] Ela foi posta num alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo de seu patrocínio.
“Eu lancei ao alto os meus ramos como a palmeira em Cades» (Ecli. XXIV, 18), isto é, acrescenta Santo Alberto Magno, eu estendo minha mão sobre vós para vos proteger. «Filhos, parece Maria nos dizer quando o demônio vos assaltar, recorrei a Mim, olhai para Mim e tende ânimo, porque em Mim, que vos defendo, vereis juntamente a vossa vitória».
“Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do Inferno. [...]

Maria socorre prontamente os que A invocam

“[Por outra parte], vendo Maria nossas misérias — continua Santo Afonso —, se apressa a fim de nos socorrer com a sua misericórdia. Novarino acrescenta que n’Ela desconhece demoras o desejo de fazer-nos bem; e porque não é avara guardadora de suas graças, não tarda, como Mãe de misericórdia, em derramar sobre os seus servos os tesouros de sua benignidade.
“Oh! como é pronta esta boa Mãe para valer a quem A invoca! Explicando a passagem dos Cânticos (I 5), diz Ricardo de São Lourenço que Maria é tão veloz em exercer misericórdia para com quem Lha pede, como são velozes em suas corridas os cabritos. O mesmo autor assevera-nos que a compaixão de Maria se derrama sobre quem a pede, ainda que não medeiem outras orações mais que a de uma breve Ave-Maria.
Pelo que, atesta Novarino que a Santíssima Virgem não apenas corre, mas voa em auxilio de quantos A invocam. No exercício de sua misericórdia, Ela imita a Deus, que também voa sem demora em socorro dos que O chamam, porque é fidelíssimo no cumprimento da promessa: «Pedi e recebereis» (Jo. XVI, 24). Assim afirma Novarino. Do mesmo modo procede Maria. Quando é invocada, logo está pronta para ajudar a quem A chamou em seu auxilio”8
O papagaio que repetia: “Ave Maria”
O frade Bernardino de Busti lembra o tocante fato de que um papagaio, ao qual tinha ensinado a dizer Ave Maria, sendo perseguido por um gavião, gritou Ave Maria!, e logo caiu por terra, morto, o predador.
“Com esse fato maravilhoso quis o Senhor significar que, se um animal irracional se livrou da morte, só com pronunciar o nome de Maria, quanto mais livre estará de cair nas mãos do demônio quem, nos assaltos do mesmo, for atento em invocar a divina Mãe!
«Nada mais temos a fazer, por conseguinte, quando nos vem tentar o demônio, diz São Tomás de Villanueva, senão à semelhança dos filhotes dos pássaros, que à vista do gavião se refugiam sob as asas da mãe, assim que nos sentirmos assaltados pelas tentações, logo, sem discutir com elas, buscarmos refúgio sob o manto de Maria?’.”
LACROJX, Pascoal. A Virgem Maria, seguro refúgio dos pecadores. Petrópolis: SCJ, 1935. p 134.

Nossa Senhora pode e quer nos socorrer contra o demônio

Ouçamos o que sobre a proteção de Maria nos diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Como onipotente Soberana de todo o universo, por vontade de Deus, Nossa Senhora tem o poder de nos auxiliar e quer inesgotavelmente nos socorrer em todas as nossas necessidades. Logo, se pedirmos, Ela nos socorrerá.
“Para o êxito de nosso apostolado, para o êxito de nossa vida interior, precisamos, a cada passo, da proteção de Nossa Senhora. E Ela a todo momento está disposta a nos conferir os auxílios mais inesperados, mais súbitos, mais espetaculares.
“Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro. E o perpétuo socorro é um amparo, é um ato de misericórdia, é um ato de piedade perpétuo, quer dizer, ininterrupto, que não se detém nunca, que não cessa nunca, que não se suspende nunca. Nunca significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso: por pior que seja a situação de quem A invoque, a Mãe de misericórdia o socorrerá.
“Por isso, quanto mais nossas almas estiverem tentadas, tanto mais devemos rogar à Santíssima Virgem. Ela é a Rainha de toda a criação e pode, quando queira e onde queira, derrotar fragorosamente o espírito das trevas, impondo a sua própria soberania.
“A fim de nos incutir confiança nas horas das tentações, e de nos fazer compreender que a estas pode suceder a qualquer instante uma singular e aprazível consolação, Maria pratica fulgurantes ações em favor das almas, contra Satanás. O demônio mais insistente, mais persistente, mais renitente, nada é para aquele que a Ela recorre” .

Protetora dos que lutam contra a Revolução 10

De modo especial devem implorar esse perpétuo auxílio de Maria aqueles que se empenham na luta contra-revolucionária. E ainda o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira quem nos instrui a este respeito, em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução:
“O quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos supremos lances de uma luta, que chamaríamos de morte, se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução. [...] A primeira, a grande, a eterna revolucionária, inspiradora e fautora suprema desta Revolução, como das que a precederam e lhe sucederem, é a serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada.
“Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.
“A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do comunismo no mundo inteiro, por fim seu Imaculado Coração triunfará” “.

Maria é nosso conforto na morte

Lembremo-nos, enfim, daquele extremo socorro que todos os dias solicitamos à Santíssima Virgem, ao recitarmos a Ave Maria.
Essa boa Senhora e Mãe — escreve Santo Afonso de Ligório — não abandona seus fiéis servos nas suas angústias, e especialmente nas da morte, que de todas são as piores: “Como é [Ela] nossa vida no tempo do nosso degredo, assim também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve Ela também a graça de assistir na morte todos os predestinados. Por isso a Santa Igreja manda implorar à Bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte.
“Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o Inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a eternidade. [...] Costumado a tentá-la durante a vida, [o demônio] não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. «Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões» (Is. XIV, 21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à porfia tentam perdê-lo. [...]
‘Ah! como fogem, [porém], os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria em nosso favor, que poderemos recear de todo o Inferno? Reanimava-se David para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. «Pois ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolaram» (SI. XXII, 4, 5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o lenho da Cruz, e pela vara a intercessão de Maria, que foi a vara profetizada por Isaías (XI, 11). Esta divina Mãe, diz São Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso Santo Antonino, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? [...]
“Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis moribundos, manda o Príncipe São Miguel com todos os seus Anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, especialmente as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a Ela.
Três lírios atestam a virgindade perpétua de Maria
Naquela doce era em que a roseira da fé produzia as mais belas flores, lemos na vida do Bem-aventurado Egídio de Assis, predileto discípulo de São Francisco, a seguinte graciosa história, na qual refulge a perpétua virgindade da Mãe de Deus:
“Um pio e douto frade dominicano, estando havia muitos anos gravemente tentado contra o dogma da perpétua virgindade de Maria, quis, por fim, ir ao encontro do humilde franciscano, que tinha o dom de acalmar as consciências perturbadas, a fim de lhe expor suas tentações. O Bem-aventurado Egídio, iluminado do alto, saiu a seu encontro fora da porta do convento e, saudando-o, disse: «Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus». E, assim dizendo, bateu com o bastão na terra, nela brotando imediatamente um formoso e cândido lírio. Tornou a bater na terra e a repetir: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus»’. Logo surgiu um segundo lírio, ainda mais belo do que o primeiro. Bateu pela terceira vez na terra, replicando: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus»’. E se viu nascer um terceiro lírio que, em beleza e brancura, vencia os outros dois.
“Dito isto, o Bem-aventurado Egídio voltou-lhe, sem mais, as costas e entrou no convento, deixando aquele religioso atônito e, ao mesmo tempo, livre de suas violentas tentações.
“Tendo sabido, depois, que aquele frade era o Bem-aventurado Egídio de Assis, concebeu uma grande estima por ele e, enquanto viveu, guardou aqueles lírios, como testemunhos irrefragáveis da perpétua virgindade de Maria.”
SURIO, Vita dei B. Egidio, apud  ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 209.
Maria é nosso auxílio no tribunal divino
“Quando uma alma está para deixar esta vida, diz Isaías, se conturba o Inferno todo e manda os demônios mais terríveis a tentá-la antes de sair do corpo e depois acusá-la, quando se apresentar ao tribunal de Jesus Cristo. «O Inferno via-se lá embaixo à tua chegada todo turbado, e diante de ti levanta gigantes» (Is. XIV 9). Mas Ricardo diz que os demônios, em se tratando de uma alma patrocinada por Maria, não terão atrevimento nem ainda para acusá-la. Pois sabem muito bem que o Juiz nunca condenou, nem condenará jamais uma alma protegida por sua grande Mãe. São Jerônimo escreve à virgem Eustóquio que Maria não só socorre os seus amados servos na sua morte, mas também os vem esperar na passagem para a eternidade, a fim de os animar e de os acompanhar até ao tribunal divino”12.
Glória ao Padre...
Explica-nos o grande e renomado teólogo Fr. Antonio Royo Marín, O. P., dominicano de nossos dias, constituir o Gloria Patri “a principal fórmula que desde os tempos primitivos a Igreja usa para honrara Santíssima Trindade. Com ela se rende às Três Beatíssimas Pessoas uma homenagem de reconhecimento, amor, adoração e louvor de sua infinita excelência. A Igreja a emprega constantemente em sua liturgia, e é obrigatória no final de cada salmo, na recitação do Ofício divino.
“Não devemos esquecer de que a glória da Santíssima Trindade é o fim último e absoluto de toda oração e da própria existência de todas as criaturas, incluindo Maria e o mesmo Jesus enquanto homem. [...] Se havemos de ir a Jesus por Maria, o termo final não pode ser outro senão Deus uno e trino, de acordo com São Paulo: «Todas as coisas vos pertencem [...j, o mundo, a vida ou a morte, as coisas presentes, ou as futuras, tudo é vosso. Vós, porém, sois de Cristo, e Cristo de Deus» (I Cor. III, 21-23)” 13
Salve, á Virgem Mãe
Grande milagre operado pelo Onipotente
“Não há título maior que o de Mãe de Deus”, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. “Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo preza tanto a virgindade que desejou fosse sua Mãe também virgem, operando em favor d’Ela um estupendo milagre que excede à nossa imaginação: Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto.
“Segundo a bela comparação que fazem os teólogos, assim como Nosso Senhor saiu do sepulcro sem esforço e sem nada quebrantar, assim deixou Ele o claustro materno, sem detrimento da virgindade de Maria Santíssima” 14
Nossa Senhora, Virgem e Mãe! Eis um dos grandes milagres operados pela destra do Onipotente. O Doutor Melífluo, São Bernardo, viu nesta extraordinária ação da Providência um dos privilégios que mais distingue a Virgem Santíssima de todas as outras criaturas:
“Não há coisa, na verdade, que mais me deleite, porém tampouco há que mais me atemorize, que o falar da glória da Virgem Mãe. Confesso minha imperícia, não oculto minha grande pusilanimidade. Porque [...] se me ponho a louvar sua virgindade, descubro que muitas outras foram, depois d’Ela, virgens. Se me ponho a exaltar sua humildade, encontrar-se-ão talvez muito poucos, mas se acharão, que, a exemplo de seu Divino Filho, se fizeram mansos e humildes de coração. Se engrandeço a multidão de suas misericórdias, vêm-me à lembrança alguns homens e também mulheres que foram misericordiosos.
“Uma coisa há na qual Ela não teve antes par nem semelhante, nem o terá jamais, e foi em unir as alegrias da maternidade com a honra da virgindade. «Maria, disse Jesus, escolheu para si a melhor parte». Ninguém duvida, com efeito, que se é boa a fecundidade conjugal, todavia é melhor a castidade virginal; pois bem, supera imensamente às duas a fecundidade virginal ou a virgindade fecunda. Privilégio é este próprio de Maria e que não se concederá jamais a nenhuma outra mulher. [...] É prerrogativa singular d’Ela e por isto mesmo inefável: ninguém poderá compreendê-la, nem explicá-la.
“Que dizer, então, se nos lembrarmos de quem Maria se tornou Mãe? Que língua, fosse mesmo angélica, seria jamais capaz de louvar bastante a Virgem Mãe? Mãe, não de um qualquer, mas de Deus. Duplo milagre, duplo privilégio, que de modo maravilhoso se harmonizam. Porque nem era digno da Virgem outro Filho, nem de Deus, outra Mãe”.15
Semelhante é o pensamento de São Tomás de Aquino, ao comentar este versículo do Magnificat: “Porque em Mim fez grandes coisas o que é poderoso, e cujo nome é santo” (Lc. 1, 49):
“Manifesta a Virgem que será proclamada bem-aventurada [...] «porque fez em Mim grandes coisas o que é poderoso».
“Que grandes coisas Vos fez? Creio que [estas]: sendo criatura, daríeis à luz o Criador, e que sendo escrava, engendraríeis o Senhor, para que Deus redimisse o mundo por Vós, e por Vós também lhe devolvesse a vida. E sois grande, porque concebestes permanecendo virgem, superando, por disposição divina, à natureza. Fostes reputada digna de ser mãe sem obra de varão; e não uma qualquer mãe, mas a do Unigênito Salvador. A isto se refere o Princípio do cântico, onde diz: «Minha alma engrandece o Senhor». Só aquela alma, à qual Deus se dignou fazer grandes coisas, é que pode enaltecê-Lo com apropria dos louvores.
“Diz, pois: «O que é poderoso», para que se alguém duvide da verdade da Encarnação, permanecendo virgem depois de haver concebido, refere este milagre ao grande poder d’Aquele que o fez” 16
Considerando o extraordinário fato de Maria conciliar em si a perpétua virgindade e a maternidade divina, exclama um piedoso autor do século passado:
“O Virgem, a maravilha é precisamente a virgindade fecunda: o milagre é precisamente vossa condição inaudita de Virgem Mãe! [...]
“O Maria, Virgem Mãe, sois doravante um ideal que arrebatará todos os amantes da verdadeira beleza: Virgem Mãe, os doutores e os artistas tomar-vos-ão à porfia por tema de suas mais sublimes composições, e todos, após cansarem o próprio gênio, deporão a pena ou o pincel, sem ter podido exprimir tudo o que solicitava os ardores de seu anelo e os entusiasmos de seus sentimentos!

“Virgem Mãe, nós Vos saudamos, fazendo eco às palavras do Anjo embaixador que falou, ele mesmo, sob o as ordens de Deus! Se nos é tão agradável considerar vossas grandezas, é que elas são o fundamento de nossa esperança em Vós. [...] Vós conseguistes fazer descer um Deus sobre a terra; Vós sabereis, pois, fazer chegar à minha alma árida algumas gotas de orvalho celeste. Vossa graça, divino amálgama de humildade e de pureza, revestiu um Deus de carne humana; e ela poderá me revestir da túnica da santidade!” 17
1) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 35.
2) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 73-74.
3) EUDES, Op. cit. p. 37.
4) GERTRUDIS. Revelaciones. Tradução do Pe. Timoteo P. Ortega, 2. ed. Buenos Aires: Benedictina, 1947. p. 192.
5) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 216.
6) RAULICA, Ventura de. Tratado sobre el culto dela Santísima Virgen. Madrid: Leocardio Lopez, 1859. p. 91.
7) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 140; 142-43; 145-46.

8) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 35; 88 e 95.
9) Cfr. CORRÊA DE OLWEIRA, Plinio. Conferências em 23/5/1968, 18/11/1968 e
12/3/1970. (Arquivo pessoal).
10) 0 termo “Revolução” é usado neste livro no sentido que the é atribuído na obra “Revolução e Contra-Revolução” do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, (cfr. nota seguinte). Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a Civilização Cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo nas suas múltiplas variantes e na sua sutil metamorfose dos presentes dias. Por sua vez, a “Contra-Revolução” é o movimento que se opõe em tudo à Revolução assim entendida, procurando combatê-la por todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz. Chamam-se, por extensão, “revolucionários” e “contra-revolucionários” os seguidores daquele e deste movimento, respectivamente.
11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 3. ed. São Paulo: Chevalerie, 1993. p. 229-230.
12) LIGUORI Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 67-69.
13) ROYO MARÍN, Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 471.

Continue lendo os comentários nos próximos posts