Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Mons João Clá Dias
MATINAS
V.
Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em
meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória
ao Padre...
HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.
V.
Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez habitar .
V.
Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor .
Oremos.
Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do
mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os
olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os
meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada
Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo
vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive
e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V
Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor .
V
Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As
almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R. Amém.
Comentários
A predestinação de Maria Santíssima é a ideia central
deste Hino. Desde toda a eternidade, Deus A elegeu para a excelsa missão de
conceber e dar à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, e “para realizar n’Ela e por
Ela as maiores maravilhas que se propôs fazer no céu e na terra”1.
Escolhida
para Soberana do mundo e Rainha dos Céus, Virgem das virgens, Maria possui a
plenitude da graça, sendo a Estrela da Manhã que anuncia o dia de nossa
Redenção, e ilumina todo homem que vem a este mundo.
Ao
decretar em seus eternos desígnios a Encarnação do Verbo, não o fez Deus de
modo abstrato e indeterminado, mas sim especificando os pormenores das
condições necessárias para o cumprimento de sua soberana vontade.
Se o Filho se encarna, precisa de uma Mãe que O dará à
luz, permanecendo virgem. Além disso, quanto seja possível, esta Mãe deve ser
digna d’Ele. Logo, antecedentemente, terá todos os privilégios que o Padre
Eterno Lhe concedeu: isenção do pecado original e do pecado atual, a plenitude
da graça, e uma formosura de alma e de corpo, excedida apenas pela do
Homem-Deus.2
“Depois de Jesus Cristo Nosso Senhor — escreve São João
Eudes —, Maria é a mais admirável obra-prima que tenha saído do conselho
sempiterno de sua Divina Majestade”3.
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
Comentários
Exprimem estes dois versos um convite para que nossa alma
se anime a cantar os louvores de Maria Santíssima.
Certa vez, estando a grande Santa Gertrudes em elevada
oração, indagava que maior agrado poderia dar a Deus naquele momento. O Senhor,
então, insinuou-lhe: “Põe-te diante de minha Mãe que a meu lado está sentada, e
procura enaltecê-La” ‘.
Honrando a Virgem Santíssima, glorificamos a Deus
Com efeito, no dizer de São Luís Grignion de Montfort,
altamente glorificamos a Deus, venerando a sua Imaculada Mãe:
“Nunca pensais em Maria, sem que Ela, em vosso lugar,
pense em Deus. Nunca A louvais nem honrais, sem que Ela convosco louve e honre
a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu A chamaria:
a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só
diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e A chamou bem-aventurada, porque
Ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: «Magnificat anima mea
Dominum» — Minha alma glorifica o Senhor (Lc. 1, 46). 0 que fez nessa
ocasião, Maria o faz todos os dias: quando A louvamos, amamos, honramos ou Lhe
damos algo, Deus é louvado, amado, honrado e recebe por Maria e em Maria” .
Toda a bibliografia publicada em língua estrangeira, presente
neste livro, foi traduzida pelo autor. Prescinde-se, deste modo, a habitual
menção de tradução minha a fim de não tornar repetitivo, e ser mais agradável
ao leitor, o sistema de notação em rodapé com a respectiva referência das obras.
Semelhante é o pensamento do Pe. Ventura, segundo o qual
a Virgem Santíssima “recomenda a Jesus Cristo todo aquele que A invoca e tem um
sentimento de filial ternura para com Ela; e Jesus Cristo, por sua vez, confia
à sua Mãe todo aquele que n’Ele crê e O ama como a seu Senhor. Assim, pois,
todo filho fiel a Maria é, ao mesmo tempo, discípulo amado de Jesus Cristo” 6
Maria é digna de todo louvor
Ademais, recitando o Pequeno Ofício, associamo-nos às
homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima,
desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Éfeso que A proclamou Mãe de
Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à
voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.
“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda
honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo
louvor, de todo elogio e de toda glorificação.
“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida
à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias.
[...] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo,
Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo. [...1 Maria é digna de
todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com
os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O
em seu regaço, nutriu O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias
maternas a carne do Filho de Deus. [...]
“Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem
que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.
“Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A
escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas;
[...] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta
que avança brilhante como a aurora quando se ergue, bela como a lua e eleita
como o sol?» (Cânt. VI, 9). [...]
“Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos
homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem,
admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram
bem-aventurada”7.
É a este santo e filial dever que nos consagramos,
bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.
V. Em
meu socorro vinde já , Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Afirma São Pedro (I Pdr. V, 8) estar o demônio a rugir como leão ao nosso
redor, a fim de nos perder. Igualitário, desde aquele seu revoltoso brado non
serviam, que o fez merecer os castigos eternos, tem ele ódio a qualquer
superioridade, e por isso nos move incessante guerra para nos roubar a
salvação.
Militia est vita hominis
super terram (Jó VII,1). Nossa
vida é constante combate contra um adversário naturalmente muito mais for te do
que nós. Entretanto, poderosíssimo escudo nos foi dado: basta recorrermos à
proteção da Bem-aventurada Virgem, que o auxílio vencedor nos virá de imediato.
Essa é a súplica que iniciará cada um dos Hinos do Pequeno Ofício.
Comenta o santo autor de “Glórias de Maria” que “em todas as batalhas
contra o Inferno certamente seremos sempre vencedores, se recorrermos à Mãe de
Deus e nossa. [...] Ela foi posta num alto trono, à vista de todos os
potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos
podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo de seu patrocínio.
“Eu lancei ao alto os meus
ramos como a palmeira em Cades» (Ecli. XXIV, 18), isto é, acrescenta Santo Alberto Magno, eu estendo
minha mão sobre vós para vos proteger. «Filhos,
parece Maria nos dizer quando o demônio vos assaltar, recorrei a Mim, olhai
para Mim e tende ânimo, porque em Mim, que vos defendo, vereis juntamente a
vossa vitória».
“Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os
assaltos do Inferno. [...]
Maria socorre prontamente os que A invocam
“[Por outra parte], vendo Maria nossas misérias — continua Santo Afonso —,
se apressa a fim de nos socorrer com a sua misericórdia. Novarino acrescenta
que n’Ela desconhece demoras o desejo de fazer-nos bem; e porque não é avara
guardadora de suas graças, não tarda, como Mãe de misericórdia, em derramar
sobre os seus servos os tesouros de sua benignidade.
“Oh! como é pronta esta boa Mãe para valer a quem A invoca! Explicando a
passagem dos Cânticos (I 5), diz Ricardo de São Lourenço que Maria é tão veloz
em exercer misericórdia para com quem Lha pede, como são velozes em suas
corridas os cabritos. O mesmo autor assevera-nos que a compaixão de Maria se derrama
sobre quem a pede, ainda que não medeiem outras orações mais que a de uma breve
Ave-Maria.
Pelo que, atesta Novarino que a Santíssima Virgem não apenas corre, mas voa
em auxilio de quantos A invocam. No exercício de sua misericórdia, Ela imita a
Deus, que também voa sem demora em socorro dos que O chamam, porque é
fidelíssimo no cumprimento da promessa: «Pedi e recebereis» (Jo. XVI, 24).
Assim afirma Novarino. Do mesmo modo procede Maria. Quando é invocada, logo está
pronta para ajudar a quem A chamou em seu auxilio”8
O
papagaio que repetia: “Ave Maria”
O
frade Bernardino de Busti lembra o tocante fato de que um papagaio, ao qual
tinha ensinado a dizer Ave Maria,
sendo perseguido por um gavião, gritou Ave
Maria!, e logo caiu por terra, morto, o predador.
“Com
esse fato maravilhoso quis o Senhor significar que, se um animal irracional se
livrou da morte, só com pronunciar o nome de Maria, quanto mais livre estará de
cair nas mãos do demônio quem, nos assaltos do mesmo, for atento em invocar a
divina Mãe!
«Nada mais temos a fazer, por conseguinte,
quando nos vem tentar o demônio, diz São Tomás de Villanueva, senão à semelhança dos filhotes dos
pássaros, que à vista do gavião se refugiam sob as asas da mãe, assim que nos
sentirmos assaltados pelas tentações, logo, sem discutir com elas, buscarmos
refúgio sob o manto de Maria?’.”
LACROJX, Pascoal. A Virgem Maria, seguro refúgio dos pecadores. Petrópolis:
SCJ, 1935. p 134.
Nossa Senhora pode e quer nos socorrer contra o demônio
Ouçamos o que sobre a proteção de Maria nos diz o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira:
“Como onipotente Soberana de todo o universo, por vontade de Deus, Nossa
Senhora tem o poder de nos auxiliar e quer inesgotavelmente nos socorrer em
todas as nossas necessidades. Logo, se pedirmos, Ela nos socorrerá.
“Para o êxito de nosso apostolado, para o êxito de nossa vida interior,
precisamos, a cada passo, da proteção de Nossa Senhora. E Ela a todo momento
está disposta a nos conferir os auxílios mais inesperados, mais súbitos, mais
espetaculares.
“Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro. E o perpétuo socorro é um amparo, é um
ato de misericórdia, é um ato de piedade perpétuo, quer dizer, ininterrupto,
que não se detém nunca, que não cessa nunca, que não se suspende nunca. Nunca
significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso: por pior que seja
a situação de quem A invoque, a Mãe de misericórdia o socorrerá.
“Por isso, quanto mais nossas almas estiverem tentadas, tanto mais devemos
rogar à Santíssima Virgem. Ela é a Rainha de toda a criação e pode, quando
queira e onde queira, derrotar fragorosamente o espírito das trevas, impondo a
sua própria soberania.
“A fim de nos incutir confiança nas horas das tentações, e de nos fazer
compreender que a estas pode suceder a qualquer instante uma singular e
aprazível consolação, Maria pratica fulgurantes ações em favor das almas,
contra Satanás. O demônio mais insistente, mais persistente, mais renitente,
nada é para aquele que a Ela recorre” .
Protetora dos que lutam contra a Revolução 10
De modo especial devem implorar esse perpétuo auxílio de Maria aqueles que
se empenham na luta contra-revolucionária. E ainda o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira quem nos instrui a este respeito, em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução:
“O quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos supremos lances de uma
luta, que chamaríamos de morte, se um dos contendores não fosse imortal, entre
a Igreja e a Revolução. [...] A primeira, a grande, a eterna revolucionária,
inspiradora e fautora suprema desta Revolução, como das que a precederam e lhe
sucederem, é a serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada.
“Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.
“A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de
esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da
vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do
comunismo no mundo inteiro, por fim seu
Imaculado Coração triunfará” “.
Maria é nosso conforto na morte
Lembremo-nos, enfim, daquele extremo socorro que todos os dias solicitamos
à Santíssima Virgem, ao recitarmos a Ave
Maria.
Essa boa Senhora e Mãe — escreve Santo Afonso de Ligório — não abandona
seus fiéis servos nas suas angústias, e especialmente nas da morte, que de
todas são as piores: “Como é [Ela] nossa vida no tempo do nosso degredo, assim
também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz
trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de
assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve Ela
também a graça de assistir na morte todos os predestinados. Por isso a Santa
Igreja manda implorar à Bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora,
e na hora de nossa morte.
“Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos
remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela
incerteza da salvação eterna. É então que o Inferno lança mão de todas as armas
e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a
eternidade. [...] Costumado a tentá-la durante a vida, [o demônio] não se
contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o
ajudarem. «Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões» (Is. XIV,
21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à
porfia tentam perdê-lo. [...]
‘Ah! como fogem, [porém], os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na
hora da morte tivermos Maria em nosso favor, que poderemos recear de todo o
Inferno? Reanimava-se David para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua
confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. «Pois ainda quando andar no meio da sombra da
morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo,
eles me consolaram» (SI. XXII, 4, 5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o
lenho da Cruz, e pela vara a intercessão de Maria, que foi a vara profetizada
por Isaías (XI, 11). Esta divina Mãe, diz São Pedro Damião, é aquela poderosa
vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso
Santo Antonino, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? [...]
“Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis
moribundos, manda o Príncipe São Miguel com todos os seus Anjos, para
protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas,
especialmente as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a Ela.
Três lírios atestam a virgindade
perpétua de Maria
Naquela
doce era em que a roseira da fé produzia as mais belas flores, lemos na vida do
Bem-aventurado Egídio de Assis, predileto discípulo de São Francisco, a seguinte
graciosa história, na qual refulge a perpétua virgindade da Mãe de Deus:
“Um
pio e douto frade dominicano, estando havia muitos anos gravemente tentado
contra o dogma da perpétua virgindade de Maria, quis, por fim, ir ao encontro
do humilde franciscano, que tinha o dom de acalmar as consciências perturbadas,
a fim de lhe expor suas tentações. O Bem-aventurado Egídio, iluminado do alto,
saiu a seu encontro fora da porta do convento e, saudando-o, disse: «Irmão
pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus».
E, assim dizendo, bateu com o bastão na terra, nela brotando imediatamente um
formoso e cândido lírio. Tornou a bater na terra e a repetir: «Irmão pregador,
Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus»’. Logo surgiu um segundo lírio,
ainda mais belo do que o primeiro. Bateu pela terceira vez na terra,
replicando: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos
Jesus»’. E se viu nascer um terceiro lírio que, em beleza e brancura, vencia os
outros dois.
“Dito
isto, o Bem-aventurado Egídio voltou-lhe, sem mais, as costas e entrou no
convento, deixando aquele religioso atônito e, ao mesmo tempo, livre de suas
violentas tentações.
“Tendo
sabido, depois, que aquele frade era o Bem-aventurado Egídio de Assis, concebeu
uma grande estima por ele e, enquanto viveu, guardou aqueles lírios, como
testemunhos irrefragáveis da perpétua virgindade de Maria.”
SURIO,
Vita dei B. Egidio, apud ROSCHINI,
Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 209.
Maria é nosso
auxílio no tribunal divino
“Quando uma alma está para deixar esta vida, diz Isaías, se conturba o
Inferno todo e manda os demônios mais terríveis a tentá-la antes de sair do
corpo e depois acusá-la, quando se apresentar ao tribunal de Jesus Cristo. «O Inferno via-se lá embaixo à tua chegada
todo turbado, e diante de ti levanta gigantes» (Is. XIV 9). Mas Ricardo diz
que os demônios, em se tratando de uma alma patrocinada por Maria, não terão
atrevimento nem ainda para acusá-la. Pois sabem muito bem que o Juiz nunca
condenou, nem condenará jamais uma alma protegida por sua grande Mãe. São
Jerônimo escreve à virgem Eustóquio que Maria não só socorre os seus amados
servos na sua morte, mas também os vem esperar na passagem para a eternidade, a
fim de os animar e de os acompanhar até ao tribunal divino”12.
Glória ao Padre...
Explica-nos o grande e renomado teólogo Fr. Antonio Royo Marín, O. P.,
dominicano de nossos dias, constituir o Gloria Patri “a principal fórmula que
desde os tempos primitivos a Igreja usa para honrara Santíssima Trindade. Com
ela se rende às Três Beatíssimas Pessoas uma homenagem de reconhecimento, amor,
adoração e louvor de sua infinita excelência. A Igreja a emprega constantemente
em sua liturgia, e é obrigatória no final de cada salmo, na recitação do Ofício
divino.
“Não devemos esquecer de que a glória da Santíssima Trindade é o fim último
e absoluto de toda oração e da própria existência de todas as criaturas,
incluindo Maria e o mesmo Jesus enquanto homem. [...] Se havemos de ir a Jesus por Maria, o termo final não pode
ser outro senão Deus uno e trino, de acordo com São Paulo: «Todas as coisas vos pertencem [...j, o
mundo, a vida ou a morte, as coisas presentes, ou as futuras, tudo é vosso.
Vós, porém, sois de Cristo, e Cristo de Deus» (I Cor. III, 21-23)” 13
Salve, á Virgem Mãe
Grande milagre
operado pelo Onipotente
“Não há título maior que o de Mãe de Deus”, comenta o Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira. “Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo preza tanto a virgindade que
desejou fosse sua Mãe também virgem, operando em favor d’Ela um estupendo
milagre que excede à nossa imaginação: Maria permaneceu virgem antes, durante e
depois do parto.
“Segundo a bela comparação que fazem os teólogos, assim como Nosso Senhor
saiu do sepulcro sem esforço e sem nada quebrantar, assim deixou Ele o claustro
materno, sem detrimento da virgindade de Maria Santíssima” 14
Nossa Senhora, Virgem e Mãe! Eis um dos grandes milagres operados pela destra
do Onipotente. O Doutor Melífluo, São Bernardo, viu nesta extraordinária ação
da Providência um dos privilégios que mais distingue a Virgem Santíssima de
todas as outras criaturas:
“Não há coisa, na verdade, que mais me deleite, porém tampouco há que mais
me atemorize, que o falar da glória da Virgem Mãe. Confesso minha imperícia,
não oculto minha grande pusilanimidade. Porque [...] se me ponho a louvar sua
virgindade, descubro que muitas outras foram, depois d’Ela, virgens. Se me
ponho a exaltar sua humildade, encontrar-se-ão talvez muito poucos, mas se
acharão, que, a exemplo de seu Divino Filho, se fizeram mansos e humildes de
coração. Se engrandeço a multidão de suas misericórdias, vêm-me à lembrança
alguns homens e também mulheres que foram misericordiosos.
“Uma coisa há na qual Ela não teve antes par nem semelhante, nem o terá
jamais, e foi em unir as alegrias da maternidade com a honra da virgindade.
«Maria, disse Jesus, escolheu para si a melhor parte». Ninguém duvida, com
efeito, que se é boa a fecundidade conjugal, todavia é melhor a castidade
virginal; pois bem, supera imensamente às duas a fecundidade virginal ou a
virgindade fecunda. Privilégio é este próprio de Maria e que não se concederá
jamais a nenhuma outra mulher. [...] É prerrogativa singular d’Ela e por isto
mesmo inefável: ninguém poderá compreendê-la, nem explicá-la.
“Que dizer, então, se nos lembrarmos de quem Maria se tornou Mãe? Que
língua, fosse mesmo angélica, seria jamais capaz de louvar bastante a Virgem
Mãe? Mãe, não de um qualquer, mas de Deus. Duplo milagre, duplo privilégio, que
de modo maravilhoso se harmonizam. Porque nem era digno da Virgem outro Filho,
nem de Deus, outra Mãe”.15
Semelhante é o pensamento de São Tomás de Aquino, ao comentar este
versículo do Magnificat: “Porque em
Mim fez grandes coisas o que é poderoso, e cujo nome é santo” (Lc. 1, 49):
“Manifesta a Virgem que será proclamada bem-aventurada [...] «porque fez em Mim grandes coisas o que é
poderoso».
“Que grandes coisas Vos fez? Creio que [estas]: sendo criatura, daríeis à
luz o Criador, e que sendo escrava, engendraríeis o Senhor, para que Deus
redimisse o mundo por Vós, e por Vós também lhe devolvesse a vida. E sois
grande, porque concebestes permanecendo virgem, superando, por disposição
divina, à natureza. Fostes reputada digna de ser mãe sem obra de varão; e não
uma qualquer mãe, mas a do Unigênito Salvador. A isto se refere o Princípio do
cântico, onde diz: «Minha alma engrandece
o Senhor». Só aquela alma, à qual Deus se dignou fazer grandes coisas, é
que pode enaltecê-Lo com apropria dos louvores.
“Diz, pois: «O que é poderoso»,
para que se alguém duvide da verdade da Encarnação, permanecendo virgem depois
de haver concebido, refere este milagre ao grande poder d’Aquele que o fez” 16
Considerando o extraordinário fato de Maria conciliar em si a perpétua
virgindade e a maternidade divina, exclama um piedoso autor do século passado:
“O Virgem, a maravilha é precisamente a virgindade fecunda: o milagre é
precisamente vossa condição inaudita de Virgem Mãe! [...]
“O Maria, Virgem Mãe, sois doravante um ideal que arrebatará todos os
amantes da verdadeira beleza: Virgem Mãe, os doutores e os artistas
tomar-vos-ão à porfia por tema de suas mais sublimes composições, e todos, após
cansarem o próprio gênio, deporão a pena ou o pincel, sem ter podido exprimir
tudo o que solicitava os ardores de seu anelo e os entusiasmos de seus
sentimentos!
“Virgem Mãe, nós Vos saudamos, fazendo eco às palavras do Anjo embaixador
que falou, ele mesmo, sob o as ordens de Deus! Se nos é tão agradável
considerar vossas grandezas, é que elas são o fundamento de nossa esperança em
Vós. [...] Vós conseguistes fazer descer um Deus sobre a terra; Vós sabereis,
pois, fazer chegar à minha alma árida algumas gotas de orvalho celeste. Vossa
graça, divino amálgama de humildade e de pureza, revestiu um Deus de carne
humana; e ela poderá me revestir da túnica da santidade!” 17
1) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 35.
2) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 73-74.
3) EUDES, Op. cit. p. 37.
4) GERTRUDIS. Revelaciones. Tradução do Pe. Timoteo P. Ortega, 2. ed. Buenos Aires: Benedictina, 1947. p. 192.
5) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 216.
6) RAULICA, Ventura de. Tratado sobre el culto dela Santísima Virgen. Madrid: Leocardio Lopez, 1859. p. 91.
7) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 140; 142-43; 145-46.
8) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 35; 88 e 95.
8) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 35; 88 e 95.
9) Cfr. CORRÊA DE OLWEIRA, Plinio. Conferências em 23/5/1968, 18/11/1968 e
12/3/1970. (Arquivo pessoal).
10) 0 termo “Revolução” é usado neste livro no sentido que the é atribuído na obra “Revolução e Contra-Revolução” do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, (cfr. nota seguinte). Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a Civilização Cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo nas suas múltiplas variantes e na sua sutil metamorfose dos presentes dias. Por sua vez, a “Contra-Revolução” é o movimento que se opõe em tudo à Revolução assim entendida, procurando combatê-la por todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz. Chamam-se, por extensão, “revolucionários” e “contra-revolucionários” os seguidores daquele e deste movimento, respectivamente.
11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 3. ed. São Paulo: Chevalerie, 1993. p. 229-230.
12) LIGUORI Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 67-69.
13) ROYO MARÍN, Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 471.
12) LIGUORI Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 67-69.
13) ROYO MARÍN, Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 471.
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