Eva, Mãe da vida
A segunda e verdadeira Eva
Assim “como Jesus Cristo
foi chamado pelos Padres o novo Adão, assim também a Virgem foi chamada a nova
Eva. A primeira Eva foi mãe de todos os viventes na ordem da natureza; a
segunda Eva, Maria, o foi na ordem, desmesuradamente superior, da graça. Se
lançarmos, porém, um olhar à primeira mulher depois da culpa, eis que Maria se nos
depara como totalmente diferente.
“Com efeito, Eva, falando
com o Anjo das trevas, que lhe apareceu sob o aspecto de uma serpente, consentiu
na prevaricação e arruinou todo o gênero humano. Maria, ao contrário, falando
com o Anjo da luz, consentiu na reparação do gênero humano e o salvou. Eva ofereceu
ao homem o fruto da morte; Maria, ao contrário, lhe deu o fruto da vida. Eva
foi medianeira da morte, Maria foi medianeira da vida”.
Já no século II encontramos
estabelecida essa doutrina, pela autoridade de Santo Irineu de Lyon, que escreve:
“A Humanidade recebeu um novo progenitor (Jesus) que ocupa o lugar do primeiro
Adão. Mas, como a primeira mulher também estava implicada na queda [do homem]
por sua desobediência, o processo curativo começa igualmente com a obediência
de uma mulher. Dando a vida ao novo Adão, Ela vem a ser a verdadeira Eva, a verdadeira
Mãe dos viventes, e a causa de nossa salvação”.
E Santo Epifânio, no século
IV, deixou este ensinamento: “Eva foi para todos os homens a raiz funesta da
morte e da ruína, porque por ela a morte se introduziu no mundo. Maria foi para
eles a fonte da vida, já que por Ela nos foi restituída a mesma, e por meio
d’Ela o Filho de Deus veio ao mundo”.
Fazendo eco à tradição
cristã, o Pe. Bernardes assim se exprime: “Lamentem-se e chorem os mortais,
enquanto filhos de Eva, porque de Eva nada nos aproveitou, exceto a
descendência e progenitura de Maria. Mas consolem-se, enquanto filhos de Maria,
porque Maria nos vivificou por Cristo, e pelo mesmo Cristo já vivificada para a
duração imortal, nos está chamando e convidando para participarmos da mês ma
vida”.
Também o Pe. de La
Boullaye, S. J., em um de seus célebres sermões na Catedral de Paris, reafirma
a sentença dos Santos e doutores:
“Nas origens do mundo, Adão
nomeou sua esposa Eva, quer dizer, mãe dos viventes. [...] Adão e Eva, Deus vos
criou para serdes o pai e a mãe de nossa raça. Fostes, porém, os assassinos,
pois a vida sobrenatural que deveríeis nos transmitir, a extinguistes em vós
mesmos! [...]
“Nosso verdadeiro Pai,
aquele que devolveu às nossas almas esta seiva de vida divina, a graça, é Cristo;
nossa verdadeira Mãe, é a Virgem que O atraiu do Céu para este mundo. Sim, Mãe
em toda a força do termo, porque é a Ela, depois de Jesus, que devemos a vida. Mãe,
não adotiva, mas real, ainda que seja na ordem espiritual, por que devemos a
seus atos pessoais o nos tornarmos filhos de Deus, e de podermos chamar
verdadeiramente nosso irmão a Jesus,
seu bem-amado Filho”.
Maria é nossa vida
Com sua luminosa sabedoria
de Doutor da Igreja, Santo Afonso de Ligório nos dá a conhecer os motivos mais
profundos pelos quais Nossa Senhora é a verdadeira Eva, Mãe da vida:
“Para a exata compreensão
da razão por que a Santa Igreja nos ordena que chamemos a Maria nossa vida, é
necessário saber que, assim como a alma dá vida ao corpo, assim também a graça
divina dá vida à alma. Uma alma sem a graça divina só tem nome de viva, porém na
realidade está morta. [...] Obtendo Maria por meio de sua intercessão a graça
aos pecadores, deste modo lhes dá vida.
“Ouçamos as palavras que a
Igreja Lhe põe nos lábios, aplicando-Lhe a seguinte passagem dos Provérbios:
«Os que vigiam desde a manhã por me buscarem, achar-me-ão» (VIII, 7). «Os que
recorrem a Mim desde a manhã, isto é, sem demora, certamente me acharão».
Ou, segundo a tradução
grega, «acharão a graça». De modo que recorrer a Maria é recobrar a graça de
Deus. Lemos por isso pouco depois:
«Quem me encontra, encontra
a vida e receberá do Senhor a salvação» (Prov. VIII, 35). Ouvi-o, vós que procurais
o reino de Deus, exclamou São Boaventura, honrai a Santíssima Virgem Maria e achareis
a vida juntamente com a eterna salvação. [...] Daí as palavras de São Germano:
«Ó Mãe de Deus, vossa proteção traz a imortalidade; vossa intercessão, a vida»”.
Consoantes aos ensinamentos
precedentes, são estas palavras de confiança na Santíssima Virgem, pronunciadas
pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Maria é verdadeiramente
nossa vida. Se Ela não existisse, não teríamos razão alguma para esperar na
misericórdia divina; não teríamos nada que justificasse qualquer esperança
nossa do Céu, ou qual quer alegria na Terra. Tudo que torna vivível nossa
existência é o conjunto de esperanças que a intercessão de Nossa Senhora nos
autoriza a ter.
“Por isso Maria é nossa
vida. Vivemos por Ela; e se não fosse Ela, cairíamos desfalecidos.
“A Virgem Santíssima é
verdadeiramente nossa vida!”
Assim, podemos concluir com
o Pe. Chevalier:
“E sempre a partir do
coração que o sangue se distribui pelo corpo, e sempre através da mesma artéria
principal antes de passar às secundárias. O sangue é a imagem da vida divina.
Esta vida nos vem do Sagrado Coração, através desta artéria única, Maria, Mãe
dos viventes. No presente não vemos nem o coração, nem a artéria; nem a fonte,
nem o canal primeiro; o próprio sangue, não o vemos. Veremos no Céu todas essas
maravilhas. Mas, tornando-se visíveis, elas não mudarão. A fonte será sempre a
mesma, sempre o mesmo o canal. A diferença é que veremos: e esta visão será
nossa eterna felicidade.
“Deus, Jesus e Maria nos
aparecerão em toda a sua glória. Deus, fonte de vida, sem fundo e sem margens;
nascente que brota inteira em Jesus, e de Jesus se comunica a todos os eleitos,
por meio de Maria. Imensa e maravilhosa sociedade: maravilhosa pelo número de seus
membros, pela beleza de cada um; maravilhosa ainda mais por sua perfeita
unidade! Uma-só vida, um só corpo, uma só cabeça e um só coração. E esse todo,
de prodigiosa variedade numa extraordinária unidade, será o próprio Cristo.
“E Maria aparecerá como Mãe
desse Cristo, Mãe dos Anjos, Mãe de todos e de cada um dos eleitos. Outra vida
não haverá senão a dada por Maria; e nós A contemplaremos como Ela é: Mãe da
vida!”
Estrela de Jacob Aparecida
Narra o Livro dos Números
(XXII e ss.) que os judeus, a caminho da Terra Prometida, acamparam nas
planícies de Moab, onde estava situada Jericó, além do Jordão. À vista do povo
de Israel que assim se aproximava, Balac, rei dos moabitas, temendo pelos
habitantes de seus territórios, mandou embaixadores a Balaão, adivinho do país
de Amon, rogando-lhe viesse amaldiçoar os israelitas.
Contudo, dos lábios do
vidente, por obra de Deus, saíram palavras de bênção, e em quatro oráculos
profetizou acerca dos destinos daquele povo que “cobria a face da terra”.
No quarto e último
vaticínio, Balaão, filho de Beor, proferiu estas palavras: “Nascerá uma estrela
de Jacob, e levantar-se-á uma vara de Israel, e ferirá os capitães de Moab...”
(Núm. XXIV, 17).
Maria, a estrela de Jacob
O renomado mariólogo
francês, Auguste Nicolas, assim se refere a essa prefigura da Santíssima
Virgem:
“Eis a impressão que desperta
e despertará sempre o doce, puro e santamente gracioso nome de Maria: é o mais
generalizado e o menos comum de todos os nomes, que se empresta e não se dá
jamais às que o portam (tão próprio é da Virgem que o santificou), e à qual
sempre retorna, puro de suas aplicações, como o raio de luz volta à sua estre
“E tal é a significação do
inefável nome de Maria: Estrela.
Estrela do mar, estrela da manhã, imagem delicada da vinda de Maria ao mundo.
Desta mesma estrela, quinze séculos antes, Balaão prognosticava o aparecimento,
quando disse, profetizando a dominação universal do Messias: «Eu o verei, porém não agora: eu o fitarei,
porém não de perto; UMA ESTRELA SE ERGUERÁ DE JACOB, um cetro se levantará de
Israel, ferirá os príncipes de Moab, e reinará sobre todos os filhos de Set».
Profecia que todos os antigos hebreus aplicavam unanimemente ao Messias; que,
segundo a relação de Josefo, constituía a preocupação universal de sua nação na
época da vinda de Jesus Cristo, e que, segundo o mesmo historiador e o Talmud,
favoreceu o êxito passageiro do falso Messias Barkochebas, pela significação deste nome, que quer dizer, filho da
estrela.
“A Estrela, cujo verdadeiro
Filho reina há dezoito séculos 61 sobre todos os filhos de Set (quer dizer, sobre
a raça humana, sendo Set o filho de Adão), Maria, ao levantar-se sobre o
horizonte do mundo, foi como o dealbar da manhã da verdade, como o despontar do
dia da fé, que difundiu sobre o mundo
Jesus Cristo, luz eterna, como o chama a Igreja”.
Estrela que desbarata os caudilhos de Moab
Outra magistral
interpretação da Estrela de Jacob acha-se em São Boaventura:
“A estrela superior, que é
a Bem-aventurada Virgem, nos conduz a Cristo. E d’Ela se entende o que se diz
no livro dos Números, com estas palavras: «De Jacob nascerá uma estrela, e de
Israel se levantará uma vara que ferirá os capitães de Moab». Chama-se estrela
a Bem-aventurada Virgem por sua constante e inabalável virtude. Por Moab se
entendem os voluptuosos. Capitães de Moab são os demônios ou os pecados
capitais. Esta estrela, quer dizer, a Bem-aventurada Virgem, desbarata os
caudilhos de Moab, que são os sete pecados capitais: o espírito de soberba,
sendo humílima; o espírito de inveja, sendo benigníssima; o espírito de ira,
por ser mansíssima; o espírito de preguiça, por ser devotíssima; o espírito de
avareza, por sua liberalíssima generosidade; o espírito de gula, por sua
moderadíssima temperança, e, por último, o espírito de luxúria, sendo como é integérrima
e onimodamente casta. “Desbaratou, pois, esta estrela os caudilhos de Moab”.
Portentoso milagre operado por Maria, Mãe da
vida
Estendendo suas
considerações sobre Nossa Senhora, Mãe da vida, o Pe Jourdain as ilustra com
extraordinário exemplo:
“Maria, não contente de nos procurar a vida da
graça, se compraz em nos socorrer também nos perigos que ameaçam nossa vida
natural. Quantos enfermos Lhe devem sua cura! Quantos infelizes expostos a um risco
de morte inevitável foram salvos por Ela! [...]
“Permiti-nos de vos citar
um antigo fato, pouco conhecido.
“Um padre da Eslovênia,
devotíssimo da Santíssima Virgem, deixou seu país para se dirigir em peregrinação
a Nossa Senhora de Loreto. Teve ele a infelicidade, durante o curso de sua
viagem, de cair entre as mãos dos turcos que infestavam as costas da Itália.
Como não cessasse de invocar Maria e de dizer que A amava de todo sen coração,
os infiéis lhe abriram o peito, arrancaram-lhe o coração e lho entregaram, ordenando-lhe
de ir oferecê-lo, ele mesmo, Aquela que tanto amava.
‘Oh! milagre! Esse fiel
servidor de Maria não morreu. Aproveitando a liberdade que lhe deram seus carrascos,
pôde se arrastar durante alguns dias e chegar a Loreto. Depositou seu coração
(ainda incorrupto) aos pés do altar de Maria, recebeu a Sagrada Comunhão e
expirou.
‘Eis como Maria é Mãe da
vida. Ela, por um retumbante milagre, contrariando todas as leis da natureza,
conservou a vida de seu bem-amado servidor o bastante para que ele pudesse
cumprir seu voto.
“Maria é, portanto, a Mãe
da vida temporal, espiritual e eterna, que Ela nos alcança com sua
intercessão.”
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