terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Porta dos Santos

E no seio materno sempre santa
Afirma o eminente mariólogo que “a remissão do pecado original não se pode fazer sem a infusão da graça santificante. Por isto a Imaculada Conceição não se distingue, na realidade, da primeira santificação da Mãe de Deus, e se pode chamar sua graça original” 43.
Maria, santa desde o primeiro instante de sua vida
Os Santos e outros abalizados autores, de diversas maneiras exprimiram essa doutrina.
Em um de seus arrebatadores sermões dedicados a Nossa Senhora, São Tomás de Villanueva ensina: “Era necessário que a Mãe de Deus fosse também puríssima, sem mancha, sem pecado. E assim não apenas quando donzela, mas em menina foi santíssima, e santíssima no seio de sua mãe, e santíssima em sua concepção. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da Sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Pelo que, antes de receber aquela alma santíssima, foi completamente purificada a carne até do resíduo de toda mancha, e assim, ao ser infundida a alma, não herdou nem contraiu pela carne mancha  alguma de pecado, como está escrito: «Fixou sua habitação na paz (Si. LXXV,  3). Quer dizer, a mansão da divina Sabedoria foi construída sem a inclinação para o pecado”
Ao assinalar os principais privilégios que acompanharam a Imaculada Conceição de Maria, escreve São João Eudes: 
“A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça origina’ e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido a criatura alguma humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus. [...]
“Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n’Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça”
Santo Afonso de Ligório, por sua vez, comenta:
“A nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo, como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos reunidos. E que admirável espetáculo para o Céu e para a Terra, não seria a alma dessa bem-aventurada menina, encerrada ainda no seio de sua mãe! Era a criatura mais amável aos olhos de Deus, pois que, já cumulada de graças e méritos, podia dizer: «Quando era pequenina agradei ao Altíssimo». E ao mesmo tempo era a criatura mais amante de Deus, de quantas até então haviam existido.
“Houvera, pois, nascido imediatamente após a sua Imaculada Conceição, e já teria vindo ao mundo mais rica em méritos e mais santa do que toda a corte dos Santos. Imaginemos, agora, quanto mais santa nasceu a Virgem, vendo a luz do mundo só depois de nove meses, os quais passou adquirindo novos merecimentos no seio materno!”
Preciosa pérola no seio de San t’Ana
Com seu gracioso estilo, o Pe. Manuel Bernardes nos apresenta Maria no seio materno sempre santa:
“Uma pérola deu a Rainha Cleópatra a Marco Antônio, que se avaliava em muitos mil talentos. Em quanto avaliaremos nós esta pérola animada, que se formou na concha do ventre de Sant’Ana? Há nas Índias pérolas, que, em razão de sua diferente grandeza e figura, se chamam pérolas Ave Marias e pérolas Padre-nossos. Ó que ricas Índias se descobrirão hoje na casa da gloriosíssima e felicíssima matrona Sant’Ana, donde nos veio tal pérola Ave Maria, que nos deu tal pérola Padre Nosso? Por certo que ainda que todo o firmamento fora um livro (como o considera São João no Apocalipse), e se escrevesse todo de letras de algarismo, não somariam o valor destas duas pérolas. Porque, enfim, como dizíamos, e é certo, tudo o que devemos a Cristo Filho de Deus, devemos por conseguinte a Maria, escolhida para Mãe de Deus, e que foi a que deu pés a Deus, para andar com os homens na Terra”
No seio de San t’Ana, a vitória da Contra-Revolução
Como fecho dos comentários ao presente louvor, ouçamos estas ardorosas palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Porque concebida sem pecado original, Nossa Senhora, afirmam os teólogos, foi dotada do uso da razão desde o primeiro instante de seu ser. Portanto, já no ventre materno Ela possuía altíssimos e sublimíssimos pensamentos, vivendo no seio de Sant’Ana como num verdadeiro tabernáculo.
“Temos uma confirmação indireta disso no que narra a Sagrada Escritura (Lc. T, 44) a respeito de São João Batista. Ele, que fora engendrado no pecado original, ao ouvir a voz de Nossa Senhora saudando Santa Isabel, estremeceu de alegria no seio de sua mãe.
‘Assim, pode-se acreditar que a Bem-aventurada Virgem, com a altíssima ciência que recebera pela graça de Deus, já no seio de Sant’Ana começou a pedir a vinda do Messias e, com Ele, a derrota de todo mal no gênero humano. E desde o ventre materno se estabeleceu, com certeza, no espírito de Maria, aquele elevadíssimo intuito de vir a ser, um dia, a servidora da Mãe do Salvador.
“Na realidade, por essa forma Nossa Senhora já começava a influir nos destinos da humanidade. Sua presença na Terra era uma fonte de graças para todos aqueles que d’Ela se aproximavam na sua infância, ou mesmo quando ainda se encontrava no seio de Sant’Ana. Pois se da túnica de Nosso Senhor — conta o Evangelho (Lc. VIII, 44-47) — se irradiavam virtudes curativas para quem a tocasse, quanto mais da Mãe de Deus, Vaso de Eleição!
“Por isso, pode-se dizer que, embora fosse Ela criancinha, já em seu natal graças imensas raiaram para a Humanidade. Naquele bendito momento, a vitória da Contra-Revolução começou a ser afirmada e o demônio a ser esmagado, percebendo que algo de seu cetro estava irremediavelmente partido” 48
Porta dos Santos
Os Santos, criaturas de Maria
“Os Santos são as obras-primas da graça e como que milagres vivos e eternos da glória. Ora, pode-se afirmar que todos eles são também criaturas de Maria. Deus no-lo fez compreender, quando desejou que João, o maior entre os filhos dos homens, fosse santificado pela palavra desta augusta Virgem. [...] :
“Leia-se a Vida dos Santos e se achará que, no curso dos séculos, Maria foi para eles o que Ela havia sido para São João Batista e os primeiros Apóstolos.
“Quem poderá contar as almas puras cuja inocência Ela protege, e os pecadores que Ela reconduz, a cada dia, algumas vezes através das vias mais extraordinárias, ao caminho da salvação? Eis as obras de sua misericórdia [...] e também de sua onipotência. [...]
“Agradeçamos ao Senhor de nos ter dado uma tal Senhora, tão capaz de nos instruir e tão cheia de benevolência para conosco. Que proveito não tiraremos de suas lições se lhe prestarmos atenção. Se nos esforçarmos em seguir seus preceitos imitando os exemplos de suas virtudes!
“Consideremos os santos: eles escutaram a Maria, valeram-se da proteção de Maria, imitaram os exemplos de Maria, e se elevaram a uma perfeição que os aproxima dos Querubins e dos Serafins”
“Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim”
Entre os que alcançaram esse altíssimo grau de virtude, por meio de acrisolada devoção à Imaculada Virgem, encontra-se o grande São Luís Grignion de Montfort, que nos deixou estas indeléveis palavras:
“A Santíssima Virgem, sendo necessária a Deus, de uma necessidade chamada hipotética, devido à sua vontade, é muito mais necessária aos homens para chegarem a seu último fim. Não se confunda, portanto, a devoção à Santíssima Virgem com a devoção aos outros Santos, como se não fosse mais necessária que a destes, e apenas de superrogação.
“O douto e piedoso Suárez, da Companhia de Jesus, o sábio e devoto Justo Lípsio, doutor da Universidade de Lovaina, e muitos outros, provaram incontestavelmente, apoiados na opinião dos Santos Padres [...] que a devoção à Santíssima Virgem é necessária à salvação, e que é um sinal infalível de condenação — opinião do próprio Ecolampádio e vários outros hereges — não ter estima e amor à Santíssima Virgem. Ao contrário, é indício certo de predestinação ser-Lhe inteira e verdadeiramente devotado.
“As figuras e palavras do Antigo e do Novo Testamento o provam; a opinião e os exemplos dos Santos o confirmam; a razão e a experiência o ensinam e demonstram; o próprio demônio e seus asseclas, premidos pela força da verdade, viram-se muitas vezes constrangidos a confessá-lo a seu pesar. De todas as passagens dos Santos Padres e doutores, que compilei para provar esta verdade, cito apenas uma, para não me alongar: «Tibi devotum esse, est arma quædam salutis quæ Deus his dat quos vult salvos fien...» (S. João Damasceno) — «Ser vosso devoto, ó Virgem Santíssima, é uma arma de salvação que Deus dá àqueles que quer salvar».
“Eu poderia repetir aqui várias histórias que provam o que afirmo.
“Entre outras, aquela que vem narrada [...] nas crônicas de São Domingos: Quando o santo pregava o Rosário nas proximidades de Carcassona, quinze mil demônios, que possuíam a alma de um infeliz herege, foram obrigados, por ordem da Santíssima Virgem, a confessar muitas verdades grandes e consoladoras, referentes à devoção a Maria.
“E eles, para própria confusão o fizeram com tanto ardor e clareza que não se pode ler essa autêntica narração e o panegírico que o demônio, embora a contragosto, fez da devoção mariana, sem derramar lágrimas de alegria, ainda que pouco devoto se seja da Santíssima Virgem.
Devoção especialmente necessária aos Santos
“Se a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem simplesmente a salvação, é ainda mais para aqueles que são chamados a uma perfeição particular; nem creio que uma pessoa possa adquirir uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, sem uma grande união com a Santíssima Virgem e uma grande dependência de seu socorro. [...]
“O Altíssimo A fez tesoureira de todos os seus bens, dispensadora de suas graças, para enobrecer, elevar e enriquecer a quem Ela quiser, para fazer entrar quem Ela quiser no caminho estreito do Céu, para deixar passar, apesar de tudo, quem Ela quiser pela porta estreita da vida eterna, e para dar o trono, o cetro, e a coroa de rei a quem Ela quiser. [...]
“A Maria somente Deus confiou as chaves dos celeiros do divino amor, e o poder de entrar nas vias mais sublimes e mais secretas da perfeição, e de nesses caminhos fazer entrar os outros. Só Maria dá aos miseráveis filhos de Eva, infiel, a entrada no Paraíso Terrestre, para aí espairecerem agradavelmente com Deus, para aí, com segurança, se ocultarem de seus inimigos, para aí, sem mais receio da morte, se alimentarem deliciosamente do fruto das árvores da vida e da ciência do bem e do mal, e para sorverem longamente as águas celestes desta bela fonte que jorra com tanta abundância; ou, melhor, como Ela mesma é esse Paraíso Terrestre ou essa terra virgem e abençoada, da qual Adão e Eva, pecadores, foram expulsos, Ela só dá entrada àqueles que lhe apraz deixar entrar, e para torná-los santos”.
Maria: exemplo de santidade
Inspirado na doutrina de São Luís Grignion de Montfort, ensina o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Nossa Senhora é para nós o exemplo de santidade. Ou seja, se nos modelarmos inteiramente segundo Ela, alcançaremos a perfeita semelhança com Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Imitar a Santíssima Virgem é tê-La em vista em todas as acções que se pratica. Isto supõe, primeiramente, um claro conhecimento do modelo a que devemos nos conformar. Supõe, em seguida, um hábito de vigilância interior e de contínua meditação, pelo qual sabemos se, de fato, estamos nos identificando com aquele ideal.
“São Luís Grignion de Montfort nos propõe a imitação de três principais virtudes de Maria: a fé, a humildade e a pureza 51
“Ora, se formos cheios de fé, cheios de humildade (ou seja, de senso hierárquico que atribui tudo a Deus), se formos cheios de pureza, seremos, então, os contra-revolucionários por excelência.
“Nossa Senhora é o modelo supremo, é a fonte da Contra-Revolução. Portanto, imitá-La é ser, na perfeição, contra-revolucionário. Se A tomarmos como ideal, se acreditarmos na eficácia da devoção a Ela, se tudo fizermos em estreita união com Maria, mais facilmente a Ela nos assemelhamos.
“Assim, devemos pedir a Nossa Senhora, com todo o empenho, a graça de uma profunda compreensão de suas altíssimas virtudes, as quais havemos de imitar. E que Ela nos comunique, além disso, a plenitude de suas forças. Maria é a Virgem forte e combativa, é a Virgem intransigente e absolutamente inflexível diante do demônio, do mundo e da carne. Supliquemos a Ela essa intransigência, antes de tudo contra o que há de mal em nosso interior; em segundo lugar, contra o que há de mal fora de nós.
“O maior auxilio que Nossa Senhora pode nos prestar, é o nos conceder o espírito de sua santidade, a perfeição de suas vias, a autenticidade de suas virtudes e a vitória contra o demônio — tudo em ordem à nossa própria santificação”

Nenhum comentário:

Postar um comentário