Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Do Céu Rainha
Afirma
São Luís Grignion de Montfort que, “no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos
bem-aventurados. Para recompensar sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder
e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas
abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os
humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau
grado, às ordens da humilde Maria” 26
O glorioso título de Rainha
Essa
augusta prerrogativa de Nossa Senhora nos é apresentada com maior profundidade
pelo santo Fundador dos Redentoristas, ao iniciar ele seus belos e piedosos
comentários sobre a Salve Rainha:
“Tendo
sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a
Santa Igreja A honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de
Rainha. Se o Filho é Rei, diz Pseudo-Atanásio, justamente a Mãe deve
considerar-se e chamar-se Rainha. Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe
do Verbo Eterno,
diz São Bernardino de Siena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as
criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo abade, não foi diversa da de
Jesus, como, pois, da monarquia do Filho pode ser separada a Mãe? Por isso deve
julgar-se que a glória do reino não só é comum entre a Mãe e o Filho, mas também
que é a mesmo para ambos.
“Se
Jesus é Rei do universo, do un.iverso também é Maria Rainha, escreve Roberto
abade. De modo que, na frase de São Bernardino de Siena, quantas são as
criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte,
estão sujeitos ao domínio de Maria os Anjos, os homens e todas as coisas do Céu
e da Terra, porque tudo está também
sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico Lhe dirige estas palavras: «Continuai pois, a dominar com toda a confiança;
disponde a vosso arbítrio dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do
Rei dos reis, pertence-Vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as
criaturas»” 27
Maria Rainha: obra-prima da misericórdia de Deus
À
luz dos precedentes ensinamentos, ouçamos o Prof. Plinio Correa de Oliveira tecendo
alguns comentários sobre a realeza da Santíssima Virgem:
“
Nossa Senhora Rainha é um título que exprime o seguinte fato. Sendo Ela Mãe da
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e Esposa da Terceira Pessoa, Deus, para honrá-La, deu-Lhe o
império sobre o universo; todos os Anjos, todos os Santos, todos os homens
vivos, todas almas do Purgatório, todos
os réprobos no Inferno e todos os demônios obedecem à Santíssima Virgem. De
sorte que há uma mediação de poder, e não apenas de graça, pela qual Deus
executa todas as suas obra e realiza todas as suas vontades por intermédio de
sua Mãe.
“
Maria não é apenas o canal por onde o império de Deus passa, mas é também a Rainha
que decide por uma vontade própria, consoante os desígnios do Rei.
Nossa
Senhora é uma obra-prima do que poderíamos chamar a habilidade de Deus para ter
misericórdia em relação aos homens...” 28
Rainha dos corações
Continua
o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Luís
Grignion de Montfort faz referência a essa linda invocação que é Nossa Senhora Rainha dos Corações”.
“Como
coração entende-se, na linguagem das Sagradas Escrituras, a mentalidade do
homem, sobretudo sua vontade e seus desígnios”.
“Nossa
Senhora é Rainha dos corações enquanto tendo um poder sobre a mente e a vontade
dos homens. Este império, Maria o exerce, não por uma imposição tirânica, mas
pela ação da graça, em virtude da qual Ela pode liberar os homens de seus
defeitos e atraí-los, com soberano agrado e particular doçura, para o bem que
Ela lhes deseja. “Esse poder de Nossa Senhora sobre as almas nos revela quão
admirável é a sua onipotência suplicante, que tudo obtém da misericórdia
divina. Tão augusto é este domínio sobre todos os corações, que ele representa
incomparavelmente mais do que ser Soberana de todos os mares, de todas as vias
terrestres, de todos os astros do céu, tal é o valor de uma alma, ainda que
seja a do último dos homens!
“Cumpre
notar, porém, que a vontade (isto é, o coração) do homem moderno, com louváveis
exceções, é dominada pela Revolução. Aqueles, portanto, que querem escapar
desse jugo, devem se unir ao Coração por excelência contra-revolucionário, ao
Coração de mera criatura no qual, abaixo do Sagrado Coração de Jesus, reside a
Contra-revolução: ao Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
“Façamos,
então, a Nossa Senhora este pedido: «Minha
Mãe, sois Rainha de todas as almas, mesmo das mais duras e empedernidas que
queiram abrir-se a Vós. Suplico-Vos, pois: sede Soberana de minha alma; quebrai
os rochedos interiores de meu espírito e as resistências abjetas do fundo de
meu coração. Dissolvei, por um ato de vosso império, minhas paixões desordenadas,
minhas volições péssimas, e o resíduo dos meus pecados passados que em mim
possam ter ficado. Limpai-me, ó minha Mãe, a fim de que eu seja inteiramente
vosso»” 30
Rainha posta para a salvação do mundo
Ainda
sobre o título de Nossa Senhora Rainha, não menos eloquentes são estas palavras
do Papa Pio XII:
“A
realeza de Maria é uma realidade ultraterrena, que ao mesmo tempo, porém,
penetra até no mais íntimo dos corações e os toca na sua essência profunda, no
que eles têm de espiritual e imortal.
“A
origem das glórias de Maria, o momento solene que ilumina toda a sua pessoa e
missão, é aquele em que, cheia de graça, dirigiu ao Arcanjo Gabriel o Fiat, que
exprimia o seu assentimento à disposição divina. Ela se tornava assim, Mãe de
Deus e Rainha, e recebia o ofício real de velar sobre a unidade e paz do gênero
humano. Por meio d’Ela temos a firme esperança de que a humanidade se há de
encaminhar pouco a pouco nesta senda da salvação. [...]
“Que
poderiam, portanto, fazer os cristãos na hora atual, em que a unidade e a paz
do mundo, e até as próprias fontes da vida, estão em perigo, se não volverem o
olhar para Aquela que se lhes apresenta revestida do poder real? Assim como Ela
envolveu já no seu manto o Divino Menino, primogênito de todas as criaturas e
de toda a criação (Col. I, 15), assim também digne-se agora envolver todos os
homens e todos os povos com a sua vigilante ternura; digne-se, como Sede da
Sabedoria, fazer brilhar a verdade das palavras inspiradas, que a Igreja Lhe
aplica: «Por meu intermédio reinam os reis, e os magistrados administram a
justiça; por meio de Mim mandam os príncipes e os soberanos governam com
retidão» (Prov. VIII, 15-16).
“Se
o mundo hoje combate sem tréguas para conquistar sua unidade e para assegurar a
paz, a invocação do reino de Maria é, para além de todos os meios terrenos e de
todos os desígnios humanos de qualquer maneira sempre defeituosos, o clamor da
fé e da esperança cristã, firmes e fortes nas promessas divinas e nos auxílios
inesgotáveis, que este império de Maria difundiu para a salvação da humanidade”
31
Rainha que vencerá a Revolução
Como
fecho desses comentários ao louvor em epígrafe, vem a propósito outro
pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, particularmente oportuno nesta
atual fase histórica, convulsionada pelo caos em quase todas as atividades
humanas:
“A
realeza de Nossa Senhora, fato incontestável em todas as épocas da Igreja, veio
sendo explicitada cada vez mais a partir de São Luís Grignion de Montfort, até
aquele 13 de julho de 1917, quando Maria anunciou em Fátima: «Por fim, o meu
Imaculado Coração triunfará». E uma vitória conquistada pela Virgem, é o seu
calcanhar que outra vez esmagará a cabeça da serpente, quebrará o domínio do
demônio e Ela, como triunfadora, implantará seu Reino.
“Portanto,
devemos confiar em que Maria já determinou atender as súplicas de seus filhos
contra-revolucionários, e que Ela, Soberana do universo, pode fazer a
Contra-Revolução conquistar, num relance, incontável número de almas. Nossa
Senhora Rainha poderá expulsar desta Terra os revolucionários impenitentes, que
não querem atender ao seu apelo, de maneira que um dia Ela possa dizer: Por fim
— segundo a promessa de Fátima — o meu Coração Imaculado triunfou!” 32
25) JOURDAJN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 272-282; Vol. V p. 605.
26)
GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. P. 34.
27 Liguori, afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 23-24.
28
Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA, Plinio. Conferência em 22/5/1968. (Arquivo pessoal).
29 GRIGNION DE MONTFORT, Luís
Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis:
Vozes, 1961. p. 42.
30) Cfr. CORRÊA DE OLiVEIRA,
Plinio. Conferências em 31/5/1972 e 13/3/1992. Arquivo pessoal).
31) PIO XII. Discurso no solene
rito mariano de 1 de novembro de 1954. In: Documentos Pontifícios. Petrópolis:
Vozes, 1955. p. 20-21.
32) Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA,
Plinio. Conferências em 31/5/1965 e 31/5/1991. (Arquivo pessoal).
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