... para que, venerando
agora, afetuosamente, a vossa imaculada Conceição, consiga depois, a coroa da
eterna bem-aventurança.
A graça da perseverança final
Encerrando, rogamos o dom da perseverança final e nosso
ingresso na celeste beatitude.
“Maria, porque é nossa Mãe, deseja sobretudo a eterna
salvação de seus filhos, pelos quais intercede.
“A vida presente passa, com felicidades, com infelicidades,
com tropeços; ela um dia acaba, e é a eternidade que fica. Por isso, o mais
importante é salvarmos nossas almas, para as quais a Santíssima Virgem obtém de
Deus graças e virtudes.
“Peçamos a Ela, Rainha dos Corações, por cujas mãos Deus
governa a História e o mundo, que mova nossas almas segundo os seus desígnios,
e nos alcance a eterna beatitude”
Portanto, unamos nossas vozes à do grande São Bernardo, que
assim se dirigia à Santa Mãe de Deus: “Ó bendita Virgem, que achastes a graça,
Mãe da vida, Mãe da salvação! Por meio de Vós chegamos a vosso Filho, por Vós
nos receba O que por Vós se deu a nós. Escuse diante d’Ele vossa integridade as
culpas de nossa corrupção, e vossa humildade tão grata a Deus alcance o perdão
de nossa vaidade. A vossa copiosa caridade cubra a multidão de nossos pecados,
e vossa fecundidade gloriosa nos dê a fecundidade das boas obras. Senhora
nossa, Medianeira nossa e nossa Advogada, reconciliai-nos com vosso Filho.
“O Bendita, pela graça que achastes, pelo privilégio que
merecestes, pela misericórdia que engendrastes, fazei que Aquele que por meio
de Vós se dignou tornar-se partícipe de nossa enfermidade e miséria, por vossa
intercessão também nos faça participantes de sua glória e bem-aventurança!”
Por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o
Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos
do séculos. Amém.
Necessidade de um mediador entre Deus e os homens
A intercessão de Maria, embora onipotente, está subordina à
de Nosso Senhor Jesus Cristo, como acima vimos. Razão pela qual a Santa Igreja
encerra as orações de sua liturgia invocando a mediação do Filho de Deus.
Explica Fr. Luís de Granada que, depois da queda de Adão, “a
primeira e maior necessidade que tínhamos era a de sermos restituídos à antiga
amizade e graça de nosso Criador, que havíamos perdido por aquele comum pecado
pelo qual, como diz o Apóstolo (Ef. II, 3), os homens nasciam filhos da ira. E
como a amizade e graça de Deus para com suas criaturas seja a primeira causa de
todos os bens das mesmas, faltando esta, faltavam também os benefícios que
desta amizade procediam. [...]
“Estando, pois, os homens nesta desgraça com seu Rei e era
necessário o que geralmente se faz quando as partes desavença: um bom e terceiro
mediador que as reduza à concórdia.
O Homem-Deus, Mediador perfeitíssimo
“Este não podia ser mais conveniente que o mesmo Filho de
Deus humanado. [...] Pois, quem mais fiel para com Deus do que o próprio Deus?
E quem mais fiel para com o homem do que o próprio homem? E quem mais amigo de
ambas as naturezas do que aquele que as tinha em si reunidas? De maneira que os
dois negócios tomava por seus: o de Deus, porque era Deus verdadeiro, e o do
homem, porque era verdadeiro homem. Portanto, para este fim nenhuma coisa se
podia, não digo ordenar, mas nem imaginar nem desejar mais a propósito. [...]
‘Ademais, quem havia de ter tão grandes e tão gerais
amizades, quem havia de apagar a chama deste ódio, quem havia de fazer amigos
de tantos inimigos como eram todos os séculos presentes, passados e vindouros,
necessariamente havia de ser amicíssimo e gratíssimo aos olhos de Deus, para
que com a abundância de suas graças se desfizessem tantas desgraças, e com a
grandeza de sua amizade se olvidas sem tantas inimizades. [...]
“Quem podia ser para isto mais conveniente que o unigénito
Filho de Deus, infinitamente amado de seu Eterno Pai? A este, pois, deu-nos a
imensa bondade de Deus por mediador e reconciliador, [...J por quem alcançamos
a redenção e perdão de nossos pecados”.
V. Bendigamos ao Senhor
R. Demos graças a Deus.
Gratidão a Deus por ter criado Nossa Senhora
Depois de se repetirem os versículos com os quais invocamos, novamente,
a intercessão da Santíssima Virgem, externamos nosso entranhado e filial
reconhecimento a Deus.
É exortação constante dos autores eclesiásticos que “sempre e
por tudo devemos dar graças a nosso Criador”
“não apenas pelos grandes benefícios, senão também pelos pequenos”
“Feliz o homem — exclama São Bernardo — que a cada um dos
bens da graça volta-se Àquele em quem está a plenitude das graças; e, ao
mostrar-nos agradecidos pelos favores recebidos, nos dispomos a merecer graças
ainda maiores. Somente nossa ingratidão nos impede em absoluto de progredir na
vida perfeita, pois, reputando o doador que em certo modo se frustrou do que o
ingrato recebeu, cuida-se doravante de não dar tanto ao mesmo para tanto não
perder.
“Feliz, pois, o que rende não pequenas graças, ainda pelos
mínimos benefícios.
“Portanto, encareço-vos, irmãos, [...) que nos humilhemos
mais e mais, sob a poderosa mão de Deus, e que procuremos estar longe deste
grande e péssimo vício da ingratidão, para que, ocupando-nos com toda devoção
na ação de graças, atraiamos sobre nós a graça de nosso Deus, a única que pode
salvar nossas almas. E não só nos mostremos agradecidos com língua e palavra,
mas com obra e verdade, porque não é tanto a verbosidade como a ação de graças
o que exige de nós o doador de todas as graças, Nosso Senhor, que é bendito
pelos séculos”
É fora de dúvida que um dos maiores benefícios pelos quais
devemos gratidão e louvor ao Altíssimo, é a existência de sua e nossa Imaculada
Mãe. Por isso, digamos com São João Eudes: “Ó grande Deus, que sempre sejais
bendito por vossos eternos planos de nos dar este imenso tesouro! [...] Graças
infindas vos sejam dadas, ó adorabilíssima Trindade, por todos os favores com
que haveis enriquecido a esta Virgem incomparável. [...] Que o Céu e a Terra,
os Anjos e os homens, e todas as criaturas por isto Vos bendigam e
incessantemente Vos glorifiquem!” 96
As almas dos fiéis defuntos por misericórdia de Deus descansem em paz.
Amém.
Com esta última súplica, lembramo-nos das almas que se encontram
no Purgatório, para as quais solicitamos, a rogos de Maria, o perpétuo
descanso.
Maria deseja que aliviemos as almas do Purgatório
“A Bem-aventurada Virgem — comenta o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira — alcança também graças para as almas que se acham no Purgatório, onde
expiam os pecados que cometeram nesta vida. Por meio de suas súplicas, Ela
abrevia a punição dessas almas, suaviza-a e a alivia de mil modos” 97,
Outra não é a afirmação de Santo Afonso de Ligório, segundo o
qual, “pelos merecimentos de Maria, não só se tornam mais leves, mas também
mais breves as penas das almas do Purgatório, apressando-se, com a intercessão
da Santíssima Virgem, o tempo da expiação. Basta que Ela formule um pedido
neste sentido” 98,
Ademais, sobremaneira estima a Mãe de Deus nossas ações em
favor dos membros da Igreja Padecente.
A esse respeito escreve o Pc. Jourdain:
“As almas do Purgatório são caras à Santíssima Virgem; são
almas predestinadas e santas, almas que muito A amam e que, em sua maior parte,
A serviram com fidelidade durante sua vida sobre a Terra. Nas almas do
Purgatório Maria vê as filhas bem-amadas do Padre Eterno, as esposas de seu
Divino Filho, os templos do Espírito Santo, as imagens de Deus que brilharão um
dia no Céu com maravilhoso fulgor. Ela vê nessas almas o preço do Sangue de seu
adorável Jesus, as flores imortais que ornarão sua própria coroa durante a
eternidade. Nelas, Maria vê seus próprios filhos. [...]
Quem reza pelas almas do Purgatório prepara seu
próprio sufrágio
“Concorrendo para o alívio dessas almas, praticamos numerosos
atos de virtude e preparamos nosso próprio socorro para o tempo em que
estivermos no purgatório. [...] Bem raros são aqueles que vão diretamente ao
Céu, ao saírem desta vida. Portanto, se salvarmos nossa alma, a salvaremos
passando pelo fogo, segundo a palavra do Apóstolo (I Cor. XIII, 15). [...]
Maria, modelo de gratidão a Deus
Em sua admirável obra dedicada à Virgem
Santíssima, o Fe. Jourdain recolhe estas palavras do Pe. Kiselio, S. J. (sec.
XVII):
“Ao ouvir Isabel proclamá-La bendita entre
todas as mulheres, e render testemunho à divindade do bendito fruto de suas
entranhas, a Bem-aventurada Virgem Maria exprime os sentimentos de que está
penetrada, no admirável cântico, o mais belo que contêm nossos Santos Livros: Magnificat
anima mea Dominum — »Minha alma glorifica o Senhor». [...]
“Como no dia da Anunciação, Ela se diz sua
humilde serva; proclama que Ele é o Deus que salva, o Deus onipotente, o Deus
santo. Ela cumpre o que recomenda o Sábio: Bendizei ao Senhor e exaltai-O tanto
quanto puderdes”. Transportada de júbilo e de reconhecimento, Maria rende graças a Deus por seus benefícios.
[...]
“Que o exemplo da Virgem nos ensine como
devemos, por nossa parte, glorificar a Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor e sua
Bem-aventurada Mãe.
“Porventura não fez Deus também em nós grandes
coisas, por sua onipotência? Não nos recolheu Ele e nos tirou do abismo de
nossa miséria? Seu nome não é igualmente santo para nós e cheio de suavidade? Não
nos aceitou como filhos em sua misericórdia? Não deu de comer àqueles que
tinham fome, não consolou os aflitos e exaltou os humildes? Que nossa alma
glorifique, pois, ao Senhor, e que nosso espírito se alegre em Deus nosso
Salvador!
“Sim, é com alegria que convém, a exemplo de
Maria, bendizer ao Senhor, testemunhar-Lhe nossa gratidão e celebrar sua
glória!”
“Mas, se durante nossa vida nos aplicamos em
sufragar as almas do Purgatório, [...] não devemos temer de ser abandonados: o
que fizemos pelos outros, ser-nos-á devolvido ao cêntuplo. Maria não permitirá
que sejamos vítimas de nossa generosidade, e a nossa dívida, fosse ela de dez
mil talentos, logo será paga. [...]
“Roguemos, pois, pelas almas do Purgatório.
Assim praticamos o bem, alegramos o coração de Nossa Senhora, enriquecemos o
tesouro de nossos méritos e preparamos uma entrada mais fácil na mansão da eterna
beatitude”
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