O capítulo nono dos Provérbios se abre com este
versículo: “A sabedoria edificou para si uma casa”.
Qual é esta sabedoria e que morada construiu ela
para seu uso? São Bernardo nos responde: “Esta sabedoria que era de Deus e que
era Deus, vinda a nós do seio do Pai, construiu para si uma casa, e esta casa
foi a Virgem Maria, sua Mãe”
Casa
ornada pelo Divino Arquiteto
Corroborado pelas opiniões do santo Abade de Claraval
e de outros eminentes varões da Igreja, escreve o Pe. Paulo Ségneri, afamado
jesuíta e pregador na Corte Pontifícia, no séc. XVII:
“Segundo os santos doutores, a casa que a
Sabedoria para si edificou, é a Virgem Santa que o Verbo escolheu desde toda a
eternidade por Mãe. Ora, um rei poderoso e rico que deseje construir para si
uma mansão, deseja, ao mesmo tempo, que nada se poupe para a regularidade,
ornamento e magnificência do edifício.
“A Sabedoria Eterna faria menos por sua morada?
“Não. O Verbo, tendo resolvido tomar um corpo
humano no seio de uma Virgem, e de nele permanecer nove meses, não negligenciou
nada para adornar este templo de sua divindade, para enriquecê-lo de todos os
seus dons, em uma palavra, para torná-lo digno de si. Deste modo a Escritura
fala do Verbo sob o nome da Sabedoria, Sapientia ædificavit sibi domum, a fim
de nos assinalar que é a sabedoria que Ele emprega, para escolher e formar uma
criatura da qual jamais se envergonhará de ser o Filho.
“O Verbo, pois, como hábil arquiteto que nada
deixa de irregular, nada de defeituoso, na obra-prima de sua arte, e que lhe
dá, pelo contrário, toda a perfeição de que é capaz, o Verbo, disse, longe de
suportar em sua Mãe qualquer desordem, qualquer defeito, tomará prazer em
aperfeiçoá-La, como numa obra à qual preside sua sabedoria infinita.
“Que prova nos é necessária, depois disso, das
grandes prerrogativas da Santíssima Virgem? Pode alguém recusar-Lhe alguma,
quando se faz a reflexão de que Ela é a casa que a Sabedoria edificou para si: Sapientia
ædificavit sibi domum?”
Na mesma linha seguem os comentários do Pe.
Jourdain:
“Não a um homem, mas ao próprio Deus era mister
preparar uma residência, a qual em tudo fosse digna do hóspede divino que a
ocuparia, não por um dia, de passagem, mas para nela habitar e dela tomar os
elementos de uma nova vida. [...]
“Tal mansão está necessariamente ao abrigo de
qualquer mácula. Ou seja, Maria, Mãe do Deus feito homem, criada e preparada
por Ele para se encarnar em seu seio, foi necessariamente isenta de qualquer
falta, seja atual, seja original. [...] Isto não basta, acrescenta ainda Santo
Agostinho; convinha que Ela fosse ornada e enriquecida de todas as virtudes: «O
Filho de Deus não construiu jamais uma casa mais digna de Si do que Maria. Esta
habitação nunca foi assaltada pelos ladrões, jamais atacada pelos inimigos,
nunca despojada de seus ornamentos». [...]
A
mais ilustre habitação de Deus
“São Pedro Damião e São Jerônimo, assim entendem
o capítulo III de Isaías: a Santíssima Virgem é verdadeiramente a casa de Deus,
o palácio ou a corte real em que o Filho do Rei Eterno, revestido de nossa
carne, fez sua entrada neste mundo. «O palácio sagrado do Rei, única habitação
d’Aquele que nenhum lugar pôde conter», como diz Santo André de Creta. [...] .
“A Santíssima Virgem Maria é, portanto, a casa de
Deus. Se, como diz o Apóstolo, «os que vivem castamente são o templo de Deus»,
a Virgem, a castíssima Mãe de Deus poderia não sê-lo? Sim, Ela o é, e jamais
possuiu Deus moradia mais nobre e mais digna de Si. Por isto diz São Gregório:
«Salve, templo vivo da Divindade! Salve, casa equivalente ao Céu e à Terra!
Salve, templo digno de Deus!»”
Habitação
ornada com as mais belas prendas
E Santo Afonso de Ligório, citando o Doutor
Angélico, comenta:
“Devem ser santas e limpas todas as coisas
destinadas para Deus. Por isso David, ao traçar o plano do templo de Jerusalém
com a magnificência digna do Senhor, exclamou: Não se prepara a morada para
algum homem, mas para Deus (IPar. XXIX, 1). Ora, o soberano Criador havia
destinado Maria para Mãe de seu próprio Filho. Não devia, então, adornar-Lhe a
alma com todas as mais belas prendas, tornando-A digna habitação de um Deus?
“Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino
artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por
isso ornou Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade assegura-nos a
própria Igreja. Na oração depois da Salve Rainha, atesta que Deus preparou o
corpo e a alma da Santíssima Virgem, para serem na Terra digna habitação de seu
Unigênito” 17
A
morada do Rei Crucificado
Finalmente, outro aspecto — talvez mais sublime
que os demais — de Maria Santíssima enquanto casa de Deus, nos é apresentado
por Santo Ambrósio, o pai da Mariologia ocidental. Comentando o Evangelho de
São Lucas (XXIII, 33-49), designa ele a Nossa Senhora, junto à Cruz, como sendo
“a morada do Rei” 18
A isto observa, por sua vez, o beneditino D.
Manuel Bonaño: “A Virgem é a corte, o palácio, a morada por excelência do
grande Rei. Aos pés da Cruz, quando Nosso Senhor é por todos abandonado, Ela
continua sendo sua morada, como o foi na Encarnação” .
Colunas que sustentam a sabedoria da Santíssima
Virgem
Outra interessante interpretação do louvor em
epígrafe devemos à esclarecida pena do Cardeal Lépicier. Comentando o dom
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