Com as sete colunas da Escritura…
Esta homenagem é uma decorrência da anterior, onde chamamos Nossa
Senhora digna morada de Deus.
Com efeito, assim reza o livro dos Provérbios (IX, 1): “A
sabedoria edificou para si uma casa, levantou sete colunas.”
Sete virtudes de Maria
Escutemos o Pe. Ségneri, S. J., interpretando essa passagem
da Escritura:
“As sete colunas que a Sabedoria talhou para o embelezamento de
sua casa, são as sete virtudes que ornaram a alma de Maria, sete virtudes
principais, às quais se reduzem todas as outras. Maria possuiu em soberano grau
a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, a temperança e a força.
As três primeiras virtudes são aquelas que chamamos teologais, sobrenaturais,
divinas, porque não as encontramos senão numa alma elevada pela graça à
participação da natureza divina. As quatro outras virtudes são aquelas que
denominamos cardeais, e que podemos chamar, também, naturais e morais, enquanto
se encontram no homem considerado em seu estado natural, ainda não elevado pela
graça.
“Ora, todas essas virtudes jamais foram vacilantes na
Santíssima Virgem, como elas são em nós. Pelo contrário, foram, em Maria, quais
sólidas colunas que nada poderia abalar. Confirmada em graça, ignorava Ela
essas revoltas intestinas que nos fazem flutuar, constantemente, entre o bem e
o mal: «Ego confirmavi columnas ejus» (Si. LXXIV, 3). [...]
“O Espírito Santo diz que a própria Sabedoria talhou as sete
colunas de sua casa, para nos fazer entender que essas colunas não deviam ser
obra comum, mas rara, singular, extraordinária. Quer isto dizer que as mesmas
virtudes que são comuns a todos os justos, tiveram na Santíssima Virgem um
caráter de excelência toda particular, que foram de uma ordem superior às virtudes
que normalmente possuem os Santos. Maria devia ter a fé, a esperança, a
caridade, e todas as outras virtudes em grau mais eminente do que as teve Adão,
a fim de satisfazer com mais exatidão e facilidade os desejos do Senhor, o
qual, desde toda a eternidade, repousou sobre Ela seus olhos e A escolheu por
Mãe”.
Fé na Santíssima
Trindade
Semelhante é o pensamento de São Bernardo, ao discorrer sobre
o referido trecho dos Provérbios:
“Que significa talhar [em sua casa] sete colunas, senão dela
fazer uma digna morada com a fé e as boas obras? Certamente, o número ternário
pertence à fé na Santa Trindade, e o quartenário, às quatro principais
virtudes. Que esteve a Santíssima Trindade em Maria (me refiro à presença da
majestade), na que só o Filho estava pelo assumir da natureza humana, atesta-o
São Gabriel, quem, abrindo os mistérios ocultos, disse: «Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo»; e em seguida: «O Espírito Santo virá sobre ti e a virtude
do Altíssimo te cobrirá com sua sombra» (Lc. I, 28-35). Eis aqui que tendes
o Senhor, que tendes a virtude do Altíssimo, que tendes o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Nem pode estar o Pai sem o Filho, nem o Filho sem o Pai, e sem os dois O
que procede de ambos, o Espírito Santo, segundo o que disse o mesmo Filho: «Eu
estou no Pai e o Pai em Mim». E outra vez: «O
Pai que permanece em Mim, esse faz os milagres» (Jo. XIV, 10). É claro,
pois, que no coração da Virgem esteve a fé na Santíssima Trindade.
As virtudes
cardeais de Maria
“Devemos investigar agora porque possuiu Ela as quatro
principais virtudes como quatro colunas.
• Fortaleza
Primeiro, vejamos se teve a fortaleza. Como pode estar longe
desta virtude Aquela que, relegadas as pompas seculares e desprezados os deleites
da carne, se propôs viver só para Deus virginalmente? Se não me engano, esta é
a Virgem da qual se lê em Salomão: «Quem
encontrará a mulher forte? Certamente, seu preço é dos últimos confins»
(Prov. XXXI, 10). A qual foi tão valorosa, que esmagou a cabeça daquela serpente
a quem disse o Senhor: «Porei inimizade
entre ti e a mulher entre a tua descendência e a descendência dela; e ela te
esmagará a cabeça» (Gên. 111,15).
• Temperança
“Que foi temperante, prudente e justa, comprovamo-lo com luz mais
clara na alocução do Anjo e na sua resposta. Havendo-A saudado tão honrosamente
o Anjo, dizendo-Lhe: «Deus te salve,
cheia de graça», não se ensoberbeceu por ser bendita com um singular
privilégio da graça, mas, pelo contrário, calou-se e ponderou consigo mesma que
significava aquele insólito cumprimento. Que outra coisa brilha nisto senão a
temperança?
• Prudência
“Mas, quando o mesmo Anjo A ilustrava sobre os mistérios
celestiais, perguntou diligentemente como conceberia e daria à luz, a que não
conhecia varão; e nisto, sem dúvida alguma, foi prudente.
• Justiça
“Dá um sinal de justiça
quando se confessa escrava do Senhor (Lc. I, 28-38). Que a confissão é própria
dos justos, o atesta aquele que diz: «Com
tudo isso, os justos confessarão teu nome e os retos habitarão em tua presença»
(SI. CXXXIX, 14). E em outra parte se diz dos mesmos: «E direis na confissão: Todas as obras do Senhor são excelentes»
(Ecli. XXXIX, 21).
“Foi, pois, a Bem-aventurada Virgem Maria, forte no
propósito, temperante no silêncio, prudente na interrogação, justa na
confissão.
Portanto, com estas quatro colunas e as três anteriores da
fé, construiu n’Ela a Sabedoria celestial uma casa para si” .
Colunas que
sustentam a sabedoria da Santíssima Virgem
Outra interessante interpretação do louvor em epígrafe
devemos à esclarecida pena do Cardeal Lépicier. Comentando o dom de sabedoria
com que o Espírito Santo ornou a alma da Santíssima Virgem, escreve ele:
“Quando lemos que a Sabedoria edificou para si uma casa e
levantou sete colunas, podemos entendê-lo como se a espiritual e celeste sabedoria
de Maria houvesse sido assinalada por sete características que são, por assim
dizer, outros tantos sustentáculos seus. A sabedoria do alto é, primeiramente
pura, depois pacífica, modesta, dócil, procedendo ao modo dos bons, é cheia de
misericórdia e de excelentes frutos; sem o hábito de criticar e alheia à
hipocrisia.
“Pense-se em quanto deviam ser sólidas as bases dessas sete
colunas em Maria e com que majestade se levantava sobre elas sua sabedoria” .
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