Do templo a mesa ornou-Vos
em figura
Este louvor que rendemos à Santíssima Virgem se relaciona com
a seguinte passagem do Êxodo (25, 23-30), quando, no alto do Sinai, o Senhor
ordenou a Moisés a construção do tabernáculo destinado ao culto divino:
“Farás também uma mesa de pau de setim 23, que tenha dois
côvados24 de comprimento, um côvado de largura, e côvado e meio de altura. E
cobri-la-ás de ouro puríssimo, e far-lhe-ás uma moldura de ouro em roda, e
(porás) sobre a mesma moldura uma coroa entalhada, de quatro dedos de altura; e
sobre esta, outra coroa de ouro.
“Farás também quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro
cantos da mesma mesa, uma em cada pé. As argolas de ouro estarão da parte de
baixo da coroa para se meterem por ela varais, e a mesa possa ser transportada.
E farás varais de pau de setim, e os cobrirás de ouro, e servirão para
transportar a mesa. Prepararás também pratos, copos, incensórios e taças de
ouro puríssimo, em que se deverão oferecer as libações. E porás sempre sobre a
mesa os pães da preposição na minha presença.”
Os doze pães da proposição representavam as doze tribos de
Israel, que assim ficavam, simbolicamente, em perene homenagem ante o Criador.
Esses pães só podiam ser consumidos por pessoas consagradas ao divino serviço,
como eram os sacerdotes e levitas.
Mesa sobre a qual
repousou o Pão da Vida
Porém, aqueles pães encerravam simbolismo ainda mais elevado:
eram imagens do verdadeiro Pão da proposição, Nosso Senhor Jesus Cristo. E a
mesa sobre a qual se achavam prefigurava, por sua vez, a Santa Mãe de Deus.
Assim pensa o Pe. Terrien, que nos diz: “Se Cristo é o pão sagrado da
proposição, pão vivo e vivificante, Maria é a mesa sobre a qual Ele foi posto”
26
A mesma opinião encontramos no Pe. Jourdain, segundo o qual,
“Maria é a mesa mística magnificamente ornada e feita de madeira incorruptível,
que Deus preparou para os que se comprazem na meditação das coisas divinas. Ela
é a mesa santa e sagrada, portando o Pão da Vida, Jesus Cristo Nosso Senhor, o
sustentáculo do mundo. Pela Encarnação, trouxe Maria [em seu imaculado seio]
esse Pão que é o próprio Deus, unindo à sua divindade a natureza que recebemos
de Adão, e comunicando, àqueles que d’Ele se nutrem, uma nova vida e a graça de
se tornarem semelhantes a Deus” 27
Nossa Senhora e a
Sagrada Eucaristia
Essa última consideração torna presente ao nosso espírito a
estreitíssima relação que há entre Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia. Esta,
como salienta D. Alastruey, “é de certo modo uma extensão e complemento da
Encarnação, não só porque por ela Cristo está e continuará presente na Terra
até a consumação do mundo, senão porque, ademais, os imensos benefícios da
Encarnação e Redenção se unem maravilhosamente neste mistério, e nele se
prodigalizam aos homens.
“Maria, consentindo na Encarnação do Verbo, consentiu, ao
menos implicitamente, em todas as consequências da mesma, entre as quais
destaca-se de maneira especial, por sua grandeza, a Santíssima Eucaristia”.
É o que indica São Bernardo quando, aludindo à parábola do
fermento ou levedura que uma mulher pôs em três medidas de farinha (Mt. XIII,
33), diz: “Estas são aquelas medidas do Evangelho, fermentadas para que se faça
o pão dos Anjos que o homem come, o pão que fortalece o coração humano. Ditosa
mulher, bendita entre todas as mulheres, em cujas castas entranhas, com o fogo
do Espírito Santo, se cozeu este pão! Feliz mulher, repito, que nestas três
medidas introduziu a levedura de sua fé!”
Ao lado de São Bernardo, não poucos foram os Santos e autores
eclesiásticos que enalteceram a Santíssima Virgem, enquanto concebendo e nos
dando o Pão da Vida. Por exemplo, o monge beneditino Ruperto de Deutz exclama:
“Quando o Anjo disse a Maria: «Conceberás e darás à luz um Filho, e o chamarás
com o nome de Jesus», então abriu o Senhor as portas dos Céus e fez chover o
maná que haveríamos de comer, pão do Céu, pão dos Anjos”
E Ricardo de São Lourenço: “Cristo é o pão vivo que desceu do
Céu (Jo. VI, 32 e ss.). A Trindade Divina misturou a água da humanidade com o
vinho da divindade quando uniu a natureza humana à divina, e também a
Santíssima Virgem quando acreditou e consentiu na união”.
No exórdio de um de seus famosos sermões, assim se exprime
São João de Avila: “Senhora, em que veremos vossa predileção para conosco?
Dai-nos um sinal seguro de que nos amais. «Se vos amo ou não — diz a Virgem —
vede o que fiz por vós; considerai meus frutos e obras». [...]
“Vede o fruto de seu ventre, o santo Sacramento que de suas
entranhas saiu. E então Ela nos diz: «Vinde e comei este pão bendito, esta
carne que meu seio gerou». Quão benevolamente nos convida! Se, pois, segundo o
fruto conhecemos a que no-lo deu, Vós, Senhora, alcançai-nos que o degustemos”.
E São Pedro Damião, enfim, diz: “Detenhamo-nos aqui, meus
irmãos, e consideremos o quanto somos obrigados à Bem-aventurada Mãe de Deus, e
que ações de graças Lhe devemos render por um tão grande benefício; pois este
corpo que Ela engendrou e que trouxe em seu seio, esse corpo que Ela envolveu
em panos e nutriu de seu leite com cuidados e ternuras maternais, é, digo, esse
mesmo corpo que recebemos no altar. Quaisquer louvores que Lhe possamos render,
estarão abaixo de seus méritos, pois Ela foi quem nos preparou em suas castas
entranhas a carne puríssima que nos é dada em alimento”
Maria, modelo de
quem comunga
Se tal é o excelso vínculo que une Nossa Senhora à Sagrada
Eucaristia, nada nos será mais oportuno do que escutarmos este precioso
conselho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Em virtude de uma extraordinária analogia, Nossa Senhora é o
modelo de quem comunga. Porque quando recebemos Nosso Senhor na Sagrada
Eucaristia, a nosso pequeno — e não raras vezes miserável — modo, passamos a
ser, enquanto durar em nós a presença real, tabernáculos vivos do Santíssimo,
como Maria o foi do Verbo Encarnado. Isto nos eleva a uma inimaginável dignidade.
“Portanto, ao nos prepararmos para a Comunhão, devemos
pedir à Santíssima Virgem que disponha
nossos corações a receber convenientemente o Senhor Sacramentado: «Minha Mãe,
vinde à minha alma, entrai em meu espírito e preparai-o para a visita de vosso
Divino Filho. Concedei-me as disposições necessárias para comungar bem, ainda
que de modo eventualmente árido e insensível».
“Em seguida, peçamos a Ela esteja presente conosco no momento
de oferecermos a Nosso Senhor Eucarístico os quatro atos de culto: adoração,
ação de graças, reparação e petição.
“Que dizer a Jesus por meio de Maria? Por exemplo, isto: «Meu
Senhor e meu Deus! Eu quereria Vos amar muito mais do que Vos amo; desejaria
Vos receber neste instante, com os faustos de um amor inexprimível, do qual,
infelizmente, não sou capaz. Entretanto, como há em mim, ao menos, o pesar de
não ser assim, peço-Vos que aceiteis as adorações de vossa Mãe Santíssima como
se minhas fossem. Eu A convidei à minha casa para que Ela Vos recebesse em meu
Jugai Portanto, sou eu que, de algum modo, Vos recebo e pelos lábios de Maria
Vos adoro».
“E assim devemos proceder na ação de graças, na reparação e
na petição, oferecidas a Jesus por intermédio da Santíssima Virgem.
“Deste modo faremos, com certeza, uma excelente Comunhão.
Porque, ao entrar em nossa alma, Nosso Senhor encontrará, pelo menos, a
lembrança de sua Santíssima Mãe, e o desejo de O receber em união com Ela. Este
desejo e esta lembrança são imensamente eficazes para que Jesus se sinta bem
acolhido. Porque Ele está bem onde está Maria; e onde não se acha Maria, Ele
não está bem.
“Este método de receber a Sagrada Eucaristia em íntima união
com Nossa Senhora põe ao alcance de quem comunga todas as graças que Jesus
Sacramentado proporciona a seus devotos sinceros” .
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